sábado, 13 de junho de 2020

Postei uma foto pelado no instagram

Postei uma foto pelado no instagram com um emoji de berinjela cobrindo o meu pau.

Foi a primeira foto do tipo que postei na internet. Sempre tive problemas com minha autoimagem. Quem me conhece para além das paragens das redes sociais sabe que tenho questões em relação a autoestima, que é baixa.

Há um tempo venho tentando parar com tantas piadas autodepreciativas sobre mim. É um exercício gigante de quebra de costume e acho que até consegui reduzir bem o número de piadinhas. Mas tirando os chistes, ainda sobra um olhar bem pouco generoso que tenho sobre mim.

É uma sensação não ligada a aparência física exatamente. É bem mais profundo do que isso. Interno. No sentido de ter que fazer um esforço grande pra tirar um chicote da mão do superego e deixar feridas arderem para que talvez assim possam cicatrizar.

Paralelamente eu sigo muitos artistas, ilustradores e desenhistas que tem no nu a expressão de sua arte e eu gosto muito desses trabalhos de nudez artística. Além de amigos e conhecidos que vivem sendo fotografados pelados.

Por meio de textos eu sempre acho que me exponho demais ao mesmo tempo que acho que tenho algum domínio (ou ilusão de domínio) sobre o que deixo explícito aqui e o que fica escondido ou nas entrelinhas. Além do que calo para evitar maiores dores de cabeça.

Sempre quis posar pelado para esses artistas que desenham nu. Tenho pensado em como me desnudar quando escrevo também. O Hugo Guimarães, por exemplo, tem uma literatura mais visceral do que as minhas aventuras literárias e vez ou outra publica fotos de si mesmo pelado.

Sem falar no Pornceptual, um site que amo muito, com muitas fotos de pelado artístico. Veja, eu não tenho uma pasta de memes no computador, mas tenho uma pastinha com algumas de melhores do pornceptual. Antigamente, numa era pré internet banda larga, era muito difícil esperar que a uma foto carregasse no computador.

Imbuído destes pensamentos, certo dia depois de sair do banho tirei uma foto minha pelado em frente ao espelho do guarda-roupa. Resolvi postar no instagram para ver no que ia dar. Pensei se um textão mal formulado como este acompanharia a publicação. Desisti da ideia. O tempo para pensar no que escrever somado do tempo da escrita em si certamente me fariam desobedecer ao impulso de dividir minha peladeza com o mundo digital.

Não sei tirar selfies. Me sinto patético e desconfortável. É bem difícil me achar bonito nelas. Minha linha editorial no aplicativo tem mais a ver com minha relação com a cidade. E no momento estamos sem poder desbravá-la.

A minha foto teve 55 likes e 11 comentários. Incluindo aí o da minha mãe, que depois fez um comentário no whatsapp: "vi sua foto pelado, kkkkkk". Um sucesso absoluto. Talvez vá para o bestnine de 2020 quando este ano enfim acabar. Minha média de likes fica em torno de 20, mais ou menos. Depende do dia, da foto, do algoritmo, do horário em que ela é publicada.

Antes de postar a foto eu tinha 543 seguidores. Depois de tê-la publicado, esta quantidade caiu para 538. No mesmo dia uma pessoa nova passou a me seguir. Tinha a sensação de que quase todos os comentários da foto eram de amigas mulheres, mas fui conferir e o número está até equilibrado em 6 mulheres (heterossexuais) e 5 homens (3 gays e 2 héteros).

Meu público sempre foi majoritariamente feminino. Homens não costumam ligar para a minha existência.

Pelo tom dos comentários a foto surpreendeu as pessoas. Diana achou ousada. Raíra pediu a versão sem censura. Recebi uma cantada mais abusada pedindo a foto sem a berinjela na DM, mas desconversei. Fiquei pensando nisso. Nessa nossa má relação social com o corpo humano nu.

Esses dias descobri a Falo Magazine, uma publicação justamente sobre nudez masculina. Achei incrível. Penso em criar algo para submeter à revista quando abrirem nova chamada. Quem sabe vocês não se surpreendam novamente com mais fotos minhas pelado por aí?


Além de postar a foto no instagram, pensei também em postá-la aqui, sem censura, para os visitantes ocasionais
Pensei também em postar aqui,
sem censura, para leitores e leitoras ocasionais


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