quinta-feira, 30 de abril de 2020

Tudo que a gente tem é o hoje

E o que eu quero dizer com isso é que há duas semanas eu fui para a cozinha, responsável por proporcionar o alimento feito para a casa.

O problema é que era quinta. E vai chegando o final de semana e vai dando aquela vontade de comer uma coisa gostosa.

Eu fiz um macarrão ao molho de cebola. Receita da Rita Lobo. Na verdade, uma variação do tal macarrão. Já que eu não tinha o vinho e substituí pelo suco de limão como ela mesma tinha falado. Também não tinha tomilho aqui. Nunca usei tomilho para cozinhar. Não sei nem que cor que tem. Mas adoro esse nome. Parece uma piadinha, ou uma poesia, daquelas bem singelas e bonitinhas.

Tá, marindo?, perguntou a a uva para a outra. Não, tô milho!, respondeu a outra para a uva.

Mas eu dizia que fiz uma panela gigante de macarrão. Também a receita mandava usar uma xícara. E isso chega a ser uma piada. Mas a intenção da Rita era que o macarrão substituísse um miojo safado. Eu mudei todas as quantidades da receita da Rita. E dizia também eu que era quinta. E na sexta comemos comida gostosa.

E no sábado meu irmão foi fazer a quarentena em outro lugar, por motivos de força maior que não cabem aqui explanar.

Pois que fiquei eu em casa sozinho, senhor da quarentena, dono absoluto desses 50 metros quadrados. Eu, de cueca pela casa, a panela gigante do macarrão ruim. E ainda tinha arroz e feijão.

E aí era isso. Ou eu encarava aquela gororoba ou a comida iria para o lixo e eu detesto conviver com a ideia de desperdiçar comida. Também detesto pagar caro por comida ruim ou pouca comida, mas isso não vem ao caso agora. É só uma coisinha sobre mim

Fato é que, além das preocupações habituais da vida somadas às incertezas de futuro, insônias financeiras, incertezas profissionais, eu ainda tive que comer aquele macarrão triste.

E terminar aquela panela gigante foi uma questão que me absorveu até que ele enfim acabasse. Dei a última garfada nele na terça seguinte antes que ficasse mais intragável do que já estava.

E para não jogar também o arroz e o feijão fora fiz foi bolinhos com eles. Os de feijão eu não fritei. Sabe-se lá a razão. Só taquei meio pacote de farinha de mandioca na panela e oi bolinhos. Os de arroz foram fritos. A primeira vez que faço bolinho de arroz na vida. Faltou sal, um tempero mais ousado, marcante, talvez um Sazon, cheio de sódio, mas deu para comer, que é o que importa.

E toda essa história para dizer que tudo o que a gente tem é o hoje. Porque quando aquela quinta-feira, 16 de abril, era um hoje, a minha preocupação primeira era o cozinhar. Quando aquela quinta feira virou um ontem na sexta-feira seguinte a minha preocupação era resolver o conflito entre comer o macarrão e uma coisa mais gostosa e a coisa gostosa ganhou. Então lidar com o excesso de comida foi o dilema dos hojes que se seguiram posteriormente ao hoje original.

Todos aqueles hoje já viraram duas semanas atrás e nem registrados no tempo ficarão, ou ficarão, já que agora temos um registro daqueles tempos que poderiam ter sido sem que viessem a ser expostos publicamente aqui.

O negócio é que as preocupações de hoje (daquele hoje) nem serão preocupações daqui a duas semanas, apenas lembranças, memórias até dignas de esquecimento. E a questão aqui é que o hoje é tudo o que a gente tem, porque já já hoje acaba e amanhã vira o novo hoje.

Eu preciso cozinhar de novo. Talvez faça macarrão.

terça-feira, 28 de abril de 2020

terça-feira, 14 de abril de 2020

Perca a libido agora pergunte-me como

Estou com fastio de sexo. Entediado. Com preguiça. Com o tesão abaixo do nível do pré-sal.

Faz tempo que tenho pensado muito sobre isso.

Meu tesão constante, minha vontade de chupar rola que não passa nunca e o lugar que o sexo, o amor e os relacionamentos ocupam em minha vida.

Mas esses tempos eu ando achando tudo muito chato. A forma como a gente transa. A forma como a gente se relaciona.

Ensaiei ou pensei em escrever uma peça teatral sobre isso. Sobre essa inquietação que fica rodeando a minha orelha. Mas seria tão chata mas tão chata que não abri sequer o Word para começar a digitar. E também falar o quê?, para quem?, sobre o que?, e como exatamente?

Tudo aquilo sobre o que eu gostaria de discorrer não parece se encaixar em nenhuma forma. Ou pelo menos nas formas que tenho buscado.

Pode ser também essa autoconfiança na certeza de que eu penso sobre todas as variáveis de um problema, reproblematizando tudo por outro lado, só que sempre há algo que escapa. E o que vem é o senso comum como resposta. A simplificação das mais ignorantes.

Se não tenho tanto prazer em ser penetrado ou penetrar e gostaria de pensar o sexo para além da penetração é como se houvesse algo de errado comigo. Eu que preciso me resolver. Não o mundo que funciona de um jeito muito certo, não é mesmo? Eu que lute.

Quase como quando alguém olha um quadro em uma exposição e diz que uma criança poderia ter feito aquilo. Que o quadro na parede não é arte.

Ou na cena do Parasita em que o boy fala que a criança é muito talentosa por ter pintado um Chimpanzé e a mãe informa que aquilo é um autorretrato.

Para quem não tem o hábito de desenhar ou se expressar por essa via artística, como eu, a escrita é uma forma de se retratar. E como eu estou o tempo todo pensando sobre escrita e sobre sexo, não consigo escapar de escrever sobre mim.

E nestes tempos tem aparecido essa impotência sexual. E não nestes tempos quarentenados. A crise é anterior à crise.

Uma escassez de sonhos eróticos. Uma falta de imaginação para se masturbar. O condicionamento de estar sempre com gadgets na hora do onanismo. Meu lance são contos eróticos, mas também não dispenso vídeos, de preferência amadores.

Da última vez que eu transei eu brochei e não gozei. Mas também não era porque meu pau não estava duro que eu não estava gostando do sexo em si. Outrora muitos caras ficaram espantados porque minha ereção demorava a abaixar depois da ejaculação.

O boy com quem transei da última vez (já faz 84 anos) me perguntou quantas vezes eu tinha me masturbado pensando nele desde que tínhamos nos vistos. E ficou um clima embaraçoso, porque a resposta era nenhuma. Mas também faz tempo que eu não me masturbo pensando em alguém em especial e quando eu digo que faz tempo, faz muito tempo mesmo. Tipo bota uns 15 anos aí. Uma sexualidade quase toda que condicionada, acostumada, habituada. Uma vida sexual sedentária, preguiçosa, modorrenta. Ele tinha se masturbado duas vezes só naquele dia antes de nos encontrarmos. Obviamente me deu curiosidade de saber se eu havia sido homenageado alguma vez, mas fiquei sem jeito de perguntar. Fazia uma semana quase que eu nem tinha gozado. E óbvio que ele achou aquilo esquisito.

Em todo o caso, a inquietação vem da forma como o sexo de uma forma geral na sociedade contemporânea vem sendo feito, reproduzido, ensinado, encenado, discutido, debatido, visto, consumido e narrado.

Mas vai ver é só comigo.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Do equilíbrio necessário

Se ontem a queixa era a dificuldade em retomar, hoje a constatação gira em torno da necessidade de equilibrar as demandas.

Não que manter hábitos e rotina não seja uma batalha da vida em si. Mas nestes tempos pandêmicos tenho sentido necessidade de olhar para isso com mais carinho, digamos assim.

É que hoje, por exemplo, eu fui ao mercado. Também cozinhei. E participei de duas reuniões distintas de video-chamada. Além da terapia, que tem sido via Skype desde que começamos o isolamento social.

Salvo poucos tuítes, me sobrou pouco tempo para desperdiçar acompanhando o fluxo das redes sociais ao longo do dia.

Em dias que os compromissos são mais meus comigo mesmo é muito mais fácil perder essa linha. 

E fazer tantas coisas “offline” me fez visualizar a importância de encontrar momentos de esquecer que existe celular e redes sociais.

Equilíbrio é algo que busco há tempos e tempos nessa vida. Acho que minha relação com a ansiedade, por exemplo, melhorou muito nos últimos tempos. Não sem levar em consideração um trabalho de acompanhamento psicanalítico aí.

De qualquer forma não deixa de ser irônico observar que mais difícil do que equilibrar-se é manter-se equilibrado.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Retomada

Hoje foi uma segunda daquelas.

Daquelas em que é preciso juntar um pouco mais de forças para sair da cama, encarar a realidade e começar a fazer o que é preciso.

E ainda assim eu adiei algumas das coisas que estavam listadas para hoje. Foram transferidas para amanhã.

O preço disso foi não ter comido direito ao longo do dia e uma janta bem tapa buraco agora que incluiu até um copo de Nescau, pra disfarçar um pouquinho da fome.

É que por conta de toda essa crise que tá rolando - confinamento, quarentena, coronavirus - achei que uma semana de pausa no processo do filme viria bem a calhar.

Só eu não esperava mesmo mais uma vez ser vítima do meu autoengano. Porque planejei pencas de coisas para fazer no tempo sem o filme, mas não fiz nem metade delas.

Não pensei no que tinha que pensar. Não vi os filmes e séries que eu planejei ver.

Ao menos eu li. Se tem uma instituição na minha vida que tem funcionado em 2020 é a minha organização de leitura. Uma das “metas” deste ano era justamente ler mais em casa. Jamais pensei que seria uma pandemia a facilitadora deste processo. Mals aí mundão. Não era bem isso que eu tinha em mente.

Falta tomar vergonha na cara e colocar escrita nessa rotina.

Mas também falta tomar vergonha na cara para muita coisa adormecida, em paralelo ou stand by,

Em todo caso não vim aqui para ficar me culpando. É mais para me ocupar de uma coisa que eu gosto, me dar um pouco de prazer. Ademais, pode não ser a mão, mas só o fato de estar vindo aqui digitar essas mal traçadas já é escrever.

Ainda que o resultado não fique a contento.

Quase nunca fica. Ou pelo menos quase nunca tenho achado que fica.

A sensação é a de que eu estou desperdiçando bons títulos. 

E que ando com preguiça de parágrafos ou textos mais cumpridos. Jogando pelo ralo meu sonho de ser colunista de jornal com toda essa falta de elaboração e profundidade. Se bem que né. Deixa pra lá. Misericórdia às vezes.

No mais, só pensei aqui. E nem queria dizer que isso se reflete numa escala global, é que hoje foi uma segunda daquelas em que retomar é mais difícil que parar. Quase sempre é assim. Ou ansiamos tanto pela sexta-feira por quê? Quer dizer, eu não. Vocês aí que amam sextas.

Que tenhamos forças para continuar.



domingo, 5 de abril de 2020

Ao vivaço

Devo ser a única pessoa na face da Terra que não está vendo lives no instagram.

Não que eu seja o alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. São sete bilhões de pessoas no mundo afinal de contas. Muitas também devem estar com questões mais prementes que as minhas.

Minha questão com as lives está longe de ser fruto de um posicionamento. Não é advinda da leitura de algum artigo sobre tristeza, confinamento e angustia das redes sociais em época de pandemia.

Veja. Eu até tentei ver o que o Mahmoud estava falando ontem ao vivo para seus seguidores ontem à noite, para ver se vinha alguma dica de como fazer um sexo mais prazeroso depois que tudo isso passar. Vai que né?!.

Mas foi tudo muito rapidamente.

Não é que eu não consigo me concentrar ou algo assim. Na verdade talvez até seja.

Meu problema com as lives é que para mim elas travam, muito. Nem os stories performam bem no meu iPhone (ryca, pryvylegyadah) 4s velho de guerra.

As pessoas transmitem seus conhecimentos, seus shows, e até suas baboseiras e para mim tudo chega muito fra g men ta do pi co ta do tra va do len to.

Daí eu perco o fluxo, a paciência. Dá vontade de mandar tudo às favas. Daí o instagram trava e fecha.

E é como se tivesse ficando de fora das melhores festas, sendo expulso do clube, ou perdendo algo muito importante, mesmo sabendo que no fundo, no fundo, não estou perdendo muita coisa.