terça-feira, 26 de maio de 2020

Do que não saber o que fazer com o tempo

Ontem. No domingo eu cheguei ao fim de uma parte muito importante do filme que foi terminar definitivamente o primeiro corte do documentário.

Eu já havia passado por uma etapa parecida, que vamos chamar aqui de pré-primeiro-corte. Quando fui assistir vi que havia muito som a ser corrigido e sequencias das quais eu senti um pouco de falta.

Então depois de assistir tudo eu voltei pra mais dias que viraram semanas em frente ao programa de edição.

Resolvi tirar hoje um day-off, como dizem. Não exatamente folga-folga, nem feriado, mas aquele bom e velho deixar um pouco o material descansar e retomar outro dia.

Preenchi minhas horas acordando mais tarde, mas não tão tarde. Lendo gostosamente o meu jornal como eu gosto de fazer. Depois fui exportar os arquivos do filme, pra poder transferi-los para a Raíra. Fico pensando como seria legal podermos assistirmos todas essas 15 horas juntos.

Li também meus livros diários. Estou amando o "Oblómov" e "Sapiens" e gostando de "Sangue Negro" da Noémia de Sousa. Desde sábado que eu não tinha conseguido ler "Torto Arado", então hoje foram três capítulos no lugar do único que tenho lido por dia. Daí fui escrever. Deve sair posts no Pilhas nesta semana. Fiz uma pausa para assistir "Will & Grace" na hora do almoço e vi um episódio de "Liga da Justiça" antes de fazer arroz e strogonoff para a janta.

Enquanto cozinhava assisti um episódio de "A Regra do Jogo", que acho que foi sim uma boa novela. Faltam mais ou menos uns 30 episódios ainda para terminar.

Foi esquisito a sensação de ter finalizado uma parte do filme e mais esquisita ainda essa sensação de não saber o que fazer com o tempo.

Usei um pouco do tempo livre para refletir sobre algumas questões pessoais para levar na terapia amanhã. "Levar". a terapia tem sido feita por Skype, no meu quarto mesmo desde que entramos em confinamento. Vi dois episódios de séries diferentes (a saber Família Soprano e Todxs Nós) e o filme "Atrás da Estante", uma gracinha, disponível na Netflix.

Vi também o curta do Caio Franco, o amigo ex-namorado da Jout Jout, e um chamado "Inhalation" que está disponível no Mubi. E este foi o meu dia.

Passei longe das redes de modo geral, mas incentivado por Diana e Lucas fui ver os tuítes do Leo Dias sobre a treta com a Anitta. E o povo achando que o vídeo de sexta da reunião ministerial iria por a República abaixo. Que nada.

E assim foi mais um dia na vida. Menos um dia de vida. Amanhã, começar a assistir ao primeiro corte. Além de outras atividades relacionadas com o filme e não relacionadas também

sexta-feira, 22 de maio de 2020

A Tese do Mestrado

É um negócio meu, assim, uma teoria, uma piada interna que eu tenho para comigo mesmo e que eu chamo carinhosamente de tese do mestrado.

Descobri que existia um negócio chamado vida acadêmica só depois de ingressar na universidade. E mais. Só fui percebendo como se dava isso de pós-graduação, especialização, mestrado, doutorado etecetera depois de participar cof cof como imprensa, de encontros universitários, mais especificamente o ENUDS (diversidade sexual), e lá travar contatos com pessoas que faziam ensino superior público, já que eu vinha de uma universidade particular menos conceituada e conhecida em termos de produção acadêmica e científica, digamos assim.

Foi como ficar sabendo de um outro universo possível, cheio de pessoas inteligentes, interessantes, interessadas, articuladas, muito além do nível de boçalidade e ignorância com o qual eu estava condenado a conviver até então na vida. E não estou me referindo aqui de maneira alguma às pessoas que dividiam o estudo universitário comigo. Faço menção a formas de mentalidades mais provincianas e prosaicas, coisas de priscas eras, lá da infância e de gente que veio depois ou já estava lá desde sempre, mas cujo pensamento parou.

Pois bem.

Dada a minha admiração por essas pessoas mestrandas e mestras e mestres e doutores e doutoras e pertencentes a este universo tão distante de mim e ao qual eu só conseguia acessar lendo uns textos muito cabeçudos e muito difíceis e às vezes até incompreensíveis, comecei assim a balizar a realidade.

Se uma pessoa praticasse um ato ou exprimisse um pensamento muito absurdo que estivesse além das minhas capacidades de assimilação, interpretação e absorção eu brincava comigo mesmo dizendo "ah, gente não é possível, ele está dizendo isso para o mestrado dele. É uma pesquisa sobre a incontrolabilidade das reações sociais no século 21". "Isso é para o mestrado dela, uma etnografia sobre os efeitos" e assim por diante.

Desta forma a minha tese ia explicando o mundo. O biroliro por exemplo é uma performance para o mestrado dele, onde ele se inscreve como sujeito e observador do experimento ao mesmo tempo. Pessoas queridas falando besteiras nas redes sociais, com certeza é para investigação do mestrado delas, porque só isso explica eu não conseguir entender o que se passa na cabeça desse povo.

É uma piada velha e interna que já perdeu a graça e a qual eu nem recorro mais dado os delírios todos que estamos vivendo. Infelizmente tenho que lidar com o fato de que minha tese não é a realidade.

Mas eu gostaria muito que fosse.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Como ganhar um edital

É uma questão que eu tô me perguntando desde que vi que um edital de emergência para a área da literatura foi lançado por uma importante instituição cultural.

Hoje foi o primeiro dia de inscrição, que vai até quarta e eu não escrevi uma linha de nada por causa do tema: a vida pós-pandemia.

Minha inércia tem uma boa razão de ser. Estou completamente tomado pelo pessimismo. Ou talvez eu seja bom nisso de arrumar desculpas para mim mesmo.

Tudo que eu consigo pensar sobre vida pós-pandemia é que por mais que iniciativas pontuais e bacanas de solidariedade tenham aparecido, tem muita gente escrota no mundo.

E o mundo, como sabemos, já passou por muitas crises e estamos onde estamos por tudo que fizemos antes, durante e principalmente depois delas. Não melhoramos depois da escravidão, do nazismo, da crise espanhola, da epidemia de hiv, do 11 de setembro ou da boate kiss.

Não há luz num horizonte próximo. Pelo menos nada assim que eu consiga mensurar. Não deixaremos de acreditar nas ficções que são o dinheiro e a economia e não conseguiremos inventar um novo modo de viver, simplesmente porque nem tentaremos.

Porque falta adesão à vontade de mudar o mundo. A gente nem acredita mais que isso é possível.

Porque agora, que é agora, a gente não liberou as faxineiras e as pessoas mais precarizadas não estão ficando em casa - às vezes nem casa têm para se ficar. Como é que se pensa um pós, um futuro, quando o presente é altamente incerto e desemprego, falta de propósito e desigualdade se acentuam?

Que tipo de ficção é possível de ser inventada num cenário como esse? Que tipo de ficção tem chances de ganhar um edital? Oras, você não é escritor, inventor, criativo? Pois, crie!

Neste momento, pensar em futuro me faz oscilar. Na vida, de modo geral, pensar em amanhã só me dá vontade de chorar na cama prostrado em posição fetal. Se, por um acaso eu conseguir até lá pensar em algo para o edital, será para chorar as pitangas de um mundo cada vez mais injusto e cada vez pior.

Uma epidemia que não serviu de nada para tirarmos algum tipo de lição, porque enquanto ela está acontecendo há marmanjos na rua da casa do Lucas empinando pipa.

Por outro lado, acho que pra ganhar um edital, talvez o segredo seja investir em uma narrativa mais edificante, mais bonitinha, mais conforme dizem especialistas das novas etiquetas que surgirão. Mais como foi a capa do Segundo Caderno d’O Globo de Sábado. E eu que já não suportava etiquetas terei que conviver com novas.

A imagem que me vem desse futuro pós-pandemia é a daqueles desenhos que ilustram o céu em folhetos das Testemunhas de Jeová, em que crianças multiétnicas brincam com leões e tigres num cenário de relva verde, lagos e árvores frutíferas.

Vou descrever uma dessas. Pintar em 800 caracteres essa paisagem idílica. Vai que assim eu sou contemplado.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

No meio de tudo isso

Não ando lendo mais o horóscopo mensal para não criar expectativas com as boas quadraturas entre os planetas ou os aspectos tensos entre os astros celestes.


Não estou acompanhando com tanta regularidade os horóscopos diários também. A rotina virou água que corre pelas mãos. Cada dia é uma surpresa em relação a com quais sentimentos terei que lidar hoje.


Fica difícil processar o que se passa internamente quando parece que o chão desaparece, a normalidade de antes virou pó e o mundo físico que nos cerca é como se derretesse.


Do mundo espiritual eu queria uns sinais, sentir umas conexões, mas meus canais devem ser todos bloqueados.


No meio de tudo isso ainda tentar dar conta de alguma produtividade, eficiência, seguir com o projeto do filme. Abraçar outras ideias, anotar em cadernos ou blocos de notas boas sacadas para depois, textos, contos, observações que só devem ganhar corpo dias que chegarão sabe-se lá quando, se é que chegarão.


Esses dias tava escovando os dentes e tive um lampejo de uma ideia para o que seria o meu projeto de mestrado. Não anotei uma linha mais a sério sobre isso. E sim, o mundo de ponta cabeças, o futuro cada vez mais sinônimo de incerteza e a bonita sonhando, que é o que resta.


Junho tá aí, sendo que maio mal começou. Mais uma semana se foi.