terça-feira, 15 de agosto de 2017

Chuva na Cracolândia ou uma pequena digressão

Chove na Cracolândia.

É bom.

Pelo menos para quem está abrigado na Cracolândia.

É bom.

A chuva dilui o cheiro de merda na calçada.

Pelo menos hoje sabemos que o estômago não vai embrulhar.

Se vier com mais força, o fluxo da água pode até limpar a sujeira do meio fio empurrando-a para entupir os bueiros da São João ou da parte mais baixa da Barão de Limeira.

Chove na Cracolândia. E me dá uma saudades de Copacabana.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Podemos falar sobre ovos?

Hoje eu passei cola Pritt na boca ao invés do protetor labial. Vai ver me confundi por causa da cor e do formato das embalagens vermelhas. Só me dei conta por causa do gosto, porque a consistência das gosmas em bastão são as mesmas.

Mas podemos falar sobre ovos?

Do quanto eu gostava de chupar seus... epa!

Com os ovos que te atiram você pode fazer uma omelete. Se for mais ousado e disposto talvez dê para fazer um bolo. Rola também uma fritada. E gemada. Faz tempo que eu nem ouço falar em gemada.

Às vezes, de sábado, ou quando saio mais tarde de casa em dias de semana normais, passa na minha rua o carro dos ovos. É uma delícia, de sabor incomparável. Não. Errei. Esses são os sorvetes.

O carro dos ovos que passa é o que vem direto da granja. Aquele que as galinhas ficaram malucas e o patrão mandou vender barato.

Sempre fico com dó das galinhas nesta parte do áudio. Criadas em condições horríveis e obrigadas a suportarem o gaslighting – a manipulação de terem suas sanidades questionadas. Vamos convir afinal de contas. Se você vivesse apenas para produzir em larga escala e em condições sub-humanas você não enlouqueceria?

Mas se tem uma coisa que eu gosto no carro dos ovos é a exposição de o quanto o plural é desnecessário e está em desuso. Bonitos ovo. Acho de uma poesia e concisão singulares.

No mais, antigamente, quando o espetáculo era ruim, as pessoas costumavam atirar comidas na apresentação. Tomates, repolhos e até mesmo ovos.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Mas eu lembro que foi assim

O ser humano e suas contradições.

Dá vontade de fazer uma festa pra celebrar a incoerência.

Lindeza.

Hoje eu acordei com uma dor no maxilar, com ele meio rígido. Com uma meia dor de cabeça. Sem falar no sono e no frio.

Sonhei que participava de um debate. Sobre a buchinha da pia. O mundo contra eu. O universo versus o Will. É que eu gosto de deixar a bucha de lavar a louça com sabão. Tipo, depois que eu lavo a louça. Sei lá. É uma agonia que dá da bucha seca. Às vezes você só precisa passar uma buchinha numa colher que você colocou na boca e não lavar a louça de um batalhão da infantaria. Daí a agonia da bucha seca. Se ela tiver sabão, pronto. É só dar aquela esfregadinha e já dá para enfiar a colher de volta no pote de doce de leite, por exemplo. Eu tentava argumentar que era triplamente econômico deixar sabão na bucha. Economiza-se tempo, economiza-se água (que gasta para tirar o sabão da bucha), e economiza-se detergente (que você usou para fazer o sabão e tudo o mais).

As pessoas que estavam no sonho, não lembro quais, me condenavam, falando que aquilo era nojento, porquice, que dava problemas de saúde e higiene, que eles tinham visto no Buzzfeed. A tia Lorilei foi a única pessoa do meu sonho que me defendeu. Me senti injustiçado com todo aquele julgamento sobre mim. Qualé galera, vamos todos morrer mesmo. Não lembro como foi que tudo acabou ou porque aconteceu. Mas eu lembro que foi assim.


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Mais do mesmo mais ou menos

Um dos vários conselhos que os especialistas dão para controlar a ansiedade é prestar atenção à respiração e respirar melhor.

Eu tento me concentrar na respiração para me acalmar, mas fica difícil inalar o ar poluído e seco desta cidade.

Daí eu me concentro na sujeira que entra em mim, nas catotas que vão se acumulando no nariz e penso que a cada respiração eu fico mais perto da morte e assim será até o último suspiro.

Esta semana eu acho que eu terminei meu livro. Pelo menos uma primeira versão antes de reler, reescrever e revisar. O projeto de uma vida e um puta trabalho, mas acho que vai valer a pena continuar.

Demorei a pegar no sono depois de colocar o ponto final. Recorri à técnica da insônia produtiva e fui assistir série na Netflix. 3%, caso alguém esteja curiose.

Daí torcer para essa chuva que ameaça cair, cair de fato, já que ela está chegando meio tímida como quem não quer vir.

Hoje de manhã o Facebook carregou aquelas lembranças de tempos atrás. Uma garrafa de cerveja e um copo. Tudo ali. Cinco anos. Eu sozinho com o mesmo desejo de hoje em dia: o de sentar na mesa de um bar e tomar uma gelada.

A vida, de lá pra cá, mudou em vários sentidos, mesmo que algumas coisas permaneçam inalteradas.