Mas não qualquer quintou. Um quintou de Carnaval, de ansiedade e expectativa.
Um quintou assim de já deu o que tinha que dar. De agora não adianta mais. O que não deu pra fazer até agora não será feito até a semana que vem.
É assim que é. Não se iludam. Não marquem bobeira. Evitem o autoengano.
O dia de hoje é o de começar a jogar tudo pro alto. De começar a dar aquela pausa. Fazer tudo de modo mais arrastado, mais demorado, mais devagar.
Até a hora hoje vai passar mais lentamente. Você vai até se adiantar aos compromissos. Cair da cama mais cedo. Chegar cedo na firma.
Mesmo a chuva já ameaça cair desde as primeiras horas do dia para só desabar sobre nós no fim da tarde e atrapalhar a nossa volta pra casa.
Daí a realidade supera a ficção e a ameaça assume uma forma concreta e molhada de gotas de água caindo do céu.
Quintou de Carnaval mas não de qualquer Carnaval.
É Carnaval 2020, dos acirramentos, da vida pior, o Carnaval em que não dá pra voltar a estudar ou fazer uma pós porque mal existem bolsas para pesquisa, ainda mais em humanidades.
O Carnaval em que a minha tia fica feliz porque o importante era tirar o PT e o meu futuro vai até logo ali quando termina o raspo do tacho dos caramingué da minha poupança.
O Carnaval em que o primo faz post homofóbico no Facebook.
Então vamos viver os próximos três meses como se fossem o último, porque talvez serão.
O Carnaval da aridez dos afetos e dos sentimentos, o Carnaval dos tempos em que o amor não visceja.