quinta-feira, 25 de junho de 2020

Sobre lendas e feijões

Tenho um problema com sal. Receoso de salgar demais as comidas eu boto muito pouco sal nas coisas quando cozinho. Em algumas receitas nem coloco, tipo em strogonoff, por exemplo, porque já tem o sódio do catchup e da mostarda, ou quando uso Sazon e lembro do meme que a Adelita me mandou.

Preciso ousar mais no uso do sal, arriscar, experimentar novas medidas. Trago esta espécie de introdução para contar aqui que no último sábado eu fiz feijão. Cozinhei feijão preto como se come no Rio de Janeiro com a ideia de me transportar em sensação para Ipanema, para o Beach Sucos, o melhor prato feito do mundo, não melhor do que o quilo da Regina, no Arouche.

Acertei no alho, na quantidade da água para o caldo, mas errei no sal. Enquanto o feijão cozinhava, vi na timeline que mais pessoas tinham cozinhado feijão. A Luiza falou que as estrelas do feijão estavam alinhadas. Deviam estar. Paralelamente, é comum os relatos sobre o medo da panela de pressão explodir, além da recomendação da panela de pressão elétrica.

A panela de pressão tem um segredo simples que é não encher demais, nem de menos. E não deixar a água secar. Tirando isso, fiquei pensando muito neste medo da panela de pressão, que como todos os medos me foi ensinado. No meu caso, herdei da minha mãe, que não deixava eu chegar perto do fogão, achando que eu colocaria fogo na casa, como um boneco do The Sims.

O melhor PF do mundo, na esquina da Farme de Amoedo
com a Visconde de Pirajá em Ipanema


Medo de panela de pressão passou a fazer pouco sentido para mim quando comecei a utilizá-la com mais frequência. Ainda que eu não faça muito feijão ou muitas coisas envolvendo esta panela. A última vez tinha sido aquele macarrão cheio das gororobas (só que sem bacon) que ficou uma delícia, e antes carne louca.

De qualquer forma, fiquei pensando nessas lendas urbanas que nos formaram. A kombi que sequestra crianças, a loira do banheiro, primeiro tirar a Dilma pra depois tirar o resto. É muito pouco comum panelas de pressão explodirem. Não lembro de casos, relatos, reportagens sobre isso. Por que esse medo tão entremunhado na gente então?

Da minha parte eu sei que não fui criado para desenvolver autonomia, então me esforço para ir contra o que tentaram fazer de mim e fazer de mim o que eu quiser. É custoso e exaustivo. Não tem glória nenhuma aqui. Se quiser uma história de sucesso você está no blog errado.

Em todo caso não deixa de ser curioso notar como uma geração inteira, ou mais de uma, é refém do mesmo mito. A sensação que dá é que não fomos criados para lidar com o mundo, ou sequer com nós mesmos, no plano individual.

Fazia tempo que eu não comia ou fazia feijão. De qualquer forma, devo ficar mais um tempo sem feijão de novo. Mesmo deixando de molho e remolho, desta vez o feijão me deu muitos gases.


O restaurante Regina, no Arouche. Saudades do tempero desta comida



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