terça-feira, 31 de março de 2020

De como eu gostaria de que o mundo fosse depois da crise toda

Viu, como não era tão importante aquilo tudo que você achava tão imprescindível? No final das contas tudo aquilo pelo qual você se orgulhava ruiu, não é mesmo?

E as suas dozes horas de trabalho que praticamente serviam de alento para que você preenchesse disfarçasse suas angústias era tudo uma mentira que você contava para si mesma.

Nem você consegue parar uma pandemia.

Então você descobre que não é tão incrível assim. E que não tem superpoderes. Sua vida é só mais ou menos e essa é a maior libertação possível a que se pode chegar.

Sabe, eu estava há tempos pensando que eu não lembro mais quando foi a última vez que eu ouvi um CD inteiro.

Porque esses dias eu acordei com vontade de ouvir umas músicas. E hoje me bateu um estalo de ouvir R.E.M e eu nem sabia que eles têm um Acústico MTV. Unplugged, no caso, que chama.

Mas é. E a versão de “One I Love” é bem bonita. Isso porque nem está na integra no Youtube e o Spotify só deve ter na versão americana o CD inteiro. E esta é vai para aquele que amo, esta vai para aquele que eu abandonei. Meo deos. Como essa música é bonita. Uma música para alguém que você já amou.

Daí lembro de “Best of You”, do Foo Fighters, que gosto mais na versão do Stereophonics.

Também deu vontade de ouvir a versão acústica de “State of Love and Trust”, além das versões de Pearl Jam para The Doors. E por falar em Pearl Jam tem o clipe de “Do The Evolution”, que é quase um curta de animação e eu fico pensando que sempre que eu conseguia ver esse clipe muito raramente na televisão era um fenômeno e como todas aquelas imagens dialogavam muito com o espírito do tempo no qual estavam inseridas, as guerras dos anos 90, a tecnologia se aprimorando, ficando acessível e criando novas maneiras de ser e estar no mundo o cenário não era de todo promissor, como não vem sendo, como podemos comprovar por nossas próprias experiências.

E tinha outro clipe em estilo curta de animação que era bonitinho que era o “One More Time”, do Daft Punk, das pessoas azuis e que loucura porque eu nem sei mais porque eu tô escrevendo sobre isso, mas olha que só hoje eu descobri que o clipe tem uma continuação, ou mais de uma. Talvez uma hora eu veja.

Inclusive essas animações me lembram de Animatrix que eu nunca vi e preciso. Talvez eu veja hoje ainda. E ainda há tanto para fazer. Aumentei meio deliberadamente minha lista de leitura e a pilha de filmes para assistir só cresce. Além das coisas que começam a sufocar o peito e precisam ganhar forma, ocupar papel e posts na internet.

E também acordei na sexta com vontade de ouvir Madonna. “Fever” eu já tinha ouvido outro dia, mas desta vez deu vontade de ouvir “Deeper and Deeper” e “Like a Prayer”.

Porque uma coisa puxa a outra que puxa a outra e assim sucessivamente. E me lembrei que em três de abril, daqui a três dias, será lançado o remake de Resident Evil 3 para PlayStation 4 e nossa, que vontade de ter 250 reais para gastar num jogo de videogame, mas não. Nem o dois que estava em promoção por quase 100 dá para comprar. É muito caro tudo isso num jogo.

E eu cresci jogando Resident Evil, uma série de jogos no qual um vírus produzido por uma indústria farmacêutica do mal destrói uma cidade e a economia colapsa e deve-se enfrentar mortos vivos e outras armas biológicas para sobreviver.

Mas eu me pego a pensar que olha que legal que vai ser daqui uns anos, quando eu tiver condições e tempos de jogar e conseguir o game por um preço decente eu vou falar nossa, lembra que o lançamento desse jogo foi em 2020, durante a pandemia do Covid-19? Que loucura, né?

Faz tanto tempo que nem parece.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Insônia

Acho que é geral, né?

Por volta das 04h da manhã eu pensei em colocar Cabra Marcado para Morrer.

Faz tempo que eu tô para assistir este filme. E uma vez tentei ver ele em casa e acabei dormindo.

Eu sei. É Eduardo Coutinho. Uma das maiores referências em documentário no Brasil,  mas eu dormi. Devia estar cansado. Quem não está cansado? Tentando dar o seu melhor a todo momento. A toda hora.

É exaustivo, mesmo. Se até o William Bonner e a Renata Vasconcellos estão cansados do alto de seus salários imagina a gente sem salário e confinados.

Mas a real é que não sei muito bem porque não dormi.

Talvez o cochilo do fim- de-tarde-começo-da-noite.

Talvez a falta de reciprocidade em todos os níveis.

Talvez umas investigações aí que preciso fazer no campo interno.

Mas talvez seja o coronavirus, a subnotificação.

A sensação de privação de liberdade.

Optei por esses jogos que já roubam tempo, energia, potencial criativo. Fui de Farm Heroes. Nem sei como ou quando exatamente acabei pegando no sono. Só sei que quando vi acordei, o que significa que eu de algum jeito consegui dormir.



domingo, 22 de março de 2020

O cochilo do domingo a tarde

O título deste post seria “digressões impossíveis” e seria sobre a impossibilidade de digredir, diante deste cenário de pandemia em que nos encontramos.

Não só a pandemia, como o isolamento social, também chamado de quarentena.


Por aqui a vida não mudou muito. Só intensificou algo que já vinha acontecendo. 


Sem emprego, com um filme para editar e com os frilas escasseando um certo confinamento já estava nos planos. A diferença é que agora o resto do mundo experimenta um pouco do que é a minha rotina.


Se bem que esse tempo todo e eu continuo lutando para estabelecer uma rotina. Porque nem todo dia eu consigo obedecer com precisão uns horários. 


O engraçado é que uma das coisas que faziam com que eu pudesse me organizar melhor em relação a afazeres era justamente as saídinhas.


Nos últimos dias, entre o pós-carnaval e a pré-pandemia eram três dias de saída contra quatro em casa. Às terças ia para psicóloga. Às sextas, aulas de alemão e aos domingos a biblioteca da Casa1, onde sou voluntário.


Agora nem isso. A análise já foi por Skype essa semana. A partir do mês que vem o alemão também será enquanto o mundo atravessar esse caos.


Então pensei que há várias coisas a se compartilhar sobre a rotina de ~trabalhar de casa~. Como já disse, minha rotina e produtividade variam muito, mas há umas pequenas coisas que eu acho que ajuda como arrumar a cama e tirar o pijama. 


Pronto. É isso. Está dada a minha contribuição ao mundo. 


E essa seria uma das digressões possíveis, que viria a ser o novo título desse post, que seria um texto-tentativa-de-compromisso de tentar cumprir um desafio de escrever aqui todos os dias, pensando a escrita como cuidado de si.


Mas nesses tempos eu tenho fugido de fazer registros no meu diário para não ter que lidar com coisas internas, e a partir do momento em que botá-las no papel será exatamente isto que estarei fazendo.


Então, enrolo. Mas só até daqui a pouco.


E fiz faxina. Na verdade tirei o pó dos livros.


E nem na sexta fiz nenhum cortezinho no filme. Ok. Eu tô dentro de um cronograma e não haverá saída ao longo da semana. A não ser pelo mercado, para um abastecimento de frutas, pão e ainda preciso fazer uma listinha do que precisa.


Chupei mais laranjas esses dias.


Pude me dar um tempo para lidar com o baque de tanta notícia ruim. E agora é vida que segue.


Tenho há um tempo acordado cedo e ido dormir cedo também. E nesta tarde de domingo bateu um sono, daqueles que sempre dá depois do almoço e eu tentei cochilar, mas só dormi por meia hora.


A escrita, como uma das coisas que eu estava postergando me chamou. Então eu vim pra cá, pra começar, pra aquecer. Pra ver se outros textos além desses saem e eu não aproveito um pouco mais esse tempo livre “extra” para abastecer o blog, os blogs, o diário, a vida.

quarta-feira, 11 de março de 2020

Mais um pouco sobre laranjas

Este não é um texto bom. Já aviso logo que é para pular se quiser e não precisa de maneira nenhuma se forçar a encarar as próximas linhas.

Nem tem muito o que dizer, na verdade.

Só remoer.

Aqui eu lambo minhas feridas.

Neste parágrafo aqui eu sonho em ver você ele pelado de novo olhando pela janela do seu quarto-prisão dele ou olhando para as roupas do meu guarda-roupa para pegar uma camiseta limpa depois do banho e da chuva e eu fico admirando sua bela bunda dele e só de lembrar dá vontade de chupar seu o cu dele e beijar a sua boca dele.

Aqui a gente faz um minuto de silêncio em homenagem à tudo aquilo que não dá pra ser.

E aqui, neste parágrafo, eu conto que tô tentando me levantar, mas que pareço aqueles insetos que estão de costas e não conseguem se mexer ou virar o peso do próprio corpo e ficam em atitude desesperada sacudindo as próprias patinhas para cima e para os lados até que eles morrem de exaustão e sede e fome.

Por fim, neste texto que não está bom eu venho contar que de todas as coisas que mais me impressionou desde que nos conhecemos (eu e ele), nos pegamos (idem) e você ele desapareceu, foi que você ele me deixou com vontade de chupar laranja.

Tinha um ano que eu não chupava uma laranja. Assim, quase que contadinho. Até que sábado eu chupei uma laranja para ver se de alguma forma eu me conectava com você ele.

terça-feira, 10 de março de 2020

Por que não posso eu?

Por que não posso eu

As coisas na ordem que quero escrever?

Usar as palavras de jeitos outros

E ainda assim me fazer entender

Ligar um guarda-chuva

Ou um palito de fósforo

Querer um pedaço do seu suco

Ou um gole do seu bolo

Por demais normatizadora a língua pode ser

De normal basta vocês

sábado, 7 de março de 2020

Sobre uns livros, filmes e uma vida aí

Estou lendo os contos de Kafka presentes na edição de "Blumfeld, um Solteirão de Mais Idade", que a Record lançou em 2018.


Não estou gostando do livro de modo geral, nem dos contos em particular. Hoje mesmo, acabo de ler “Investigações de um cão” e sabe quando você não apreende nada?


Li como se não tivesse lido. Se tivesse uma prova para fazer sobre o livro ou sobre a história eu ia ter que me virar na força do truque para evitar me sair tão mal.


Os contos não me provocam nada, não me emocionam de jeito nenhum e ainda fazem com que eu fique pensando nas coisas que eu tenho que fazer - tomar banho, estudar alemão, procurar emprego, cozinhar, terminar de editar o filme, escrever, ler outras coisas, assistir a filmes, ir ao mercado, comprar pasta de dentes, pagar dívidas e boletos, etc etc etc.


E o pior é que lembro de ter gostado muito de ler “A Metamorfose”, que espero num futuro breve, reler.


Por outro lado, tenho lido "Delírio do Poder”, da Marcia Tiburi, e estou encantado com cada um dos textos. Um livro cheio de reflexões sobre o processo de candidatura dela ao governo do Rio de Janeiro em 2018.


Subi o livro na pilha de leitura por entender sua urgência e para tê-lo como espécie de material de aporte teórico de provocações que me acompanhariam na edição do filme sobre a candidatura da Renata.


E é curioso como cada um dos textos ecoa ainda aqui dentro depois da leitura, levando a uma série de outras impressões e reflexões, além da ampliação de noções sobre política. Um livro muito bom para fundamentar discussões depois que o pesadelo de governo Bolsonaro passar, se é que vai passar e se é que não mergulharemos em trevas ainda mais densas.


Por falar em Bolsonaro, eu tenho visto a série cinematográfica “Sexta-Feira, 13” e é impressionante como tudo que temos vivido politicamente no Brasil se assemelha muito ao arco narrativo de um filme de terror dos anos 80. Talvez eu me detenha sobre isso em outro texto no futuro breve, a depender de como conseguirei manter uma rotina de administração temporal em uma semana com Mit-SP e Faroffa, além de outros compromissos.


Por fim, mas não menos importante, tenho lido também "Palestina - Uma Nação Ocupada”, do Joe Sacco. Um livro-reportagem em quadrinhos sobre o período em que o jornalista e quadrinista norte-americano passou na Palestina lá no começo dos anos 90.


Estou quase terminando a HQ, mas digo que não foi uma leitura fácil. Não só porque ela tem muito texto, mas porque o tema não é dos mais palatáveis. Conflitos, guerra, crueldade. Um dos episódios retratados que mais me doem de ter lido foi o de forças de segurança (sempre elas) fazendo árabes cortarem seus pés de oliveiras. 


O relato da violência somado com as imagem das árvores estéreis faz com que eu fique até sem mais palavras para descrever como me sinto.


E tem também os relatos de prisões, que num certo sentido me lembraram muito o trecho da biografia do Reinaldo Arenas em que ele fala sobre seu período no cárcere.


Então, lá para as tantas no meio do quadrinho, Joe Sacco conta que é quase incomum que alguns dos homens com quem ele fala, conversa, entrevista, interage ou troca, não tenham sido presos. Um dos personagens apresenta a ele sua filha, Ansar, que foi batizada com o mesmo nome de um dos presídios da região.


Tenho pensado muito sobre a dobradinha prisão e liberdade nestes últimos dias, por conta disso. No quão duro é viver sob um regime de excessão, no quanto a desumanização é parte fundamental para que aconteça com facilidade a eliminação ou o aprisionamento do outro.


E eis que me deparo que a liberdade do contexto capitalista-neoliberal no qual nos encontramos não tem me parecido tão liberdade assim. Que além de precisarmos batalhar e construir uma liberdade comum ainda devemos tomar cuidado para não virarmos reféns de prisões de nossas mentes.


Tenho me sentido preso dentro de mim. Como se estivesse vivendo sem ter vivido.


No mais, comecei a ler “O Vendido”, do Paul Beatty, que foi um dos primeiros livros lançados pela Todavia, quando a editora nasceu. Confesso que li com dificuldade as primeiras vinte páginas, mas acho que foi o sono que eu nem sabia que eu tava. O final do prólogo me pegou pelo peito e então entrei de verdade no livro e todas as crueldades às quais o protagonista “Eu” vem sendo submetido pelo pai começaram a me deixar instigado para ver onde tudo isso vai dar.


Por enquanto é isso.