quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Registro do ano que corre

Não sei exatamente quando, mas passei a cultivar um hábito de fazer um calendário do mês e deixá-lo fixado na porta do guarda-roupa. É um momento de cuidadinho de mim para comigo, eu acho.

Nele anoto meus compromissos, desejos e planos para o dia, a semana e o mês. Gosto muito do momento de prepará-lo. E gosto muito do começo dos meses. Prefiro um mês novo a um Ano Novo. A expectativa que os próximos trinta dias serão melhores que os últimos trinta é bem menos excruciante do que a dos próximos 365.

Gosto de usar a régua e canetas diferentes a cada mês para traçar as linhas que formam os quadrados das datas. Uso sempre a mesma caneta de ponta fina para escrever os números dos dias.

Os dias da semana passei a escrever em alemão, para fixar. O domingo Sonntag sempre escrevo de vermelho ou rosa. Os demais dias da semana são escritos geralmente de preto, mas mês passado, por exemplo, fui de verde, pra dar uma esperança. Os nomes dos meses geralmente vêm acompanhados de piadinhas do tipo setembro chove, agosto de deus ou julho na gaita e a bicharada no vocal (amo).

A programação do dia, geralmente é escrita a lápis, para poder apagar caso mudanças na rotina sejam necessárias. Frequentemente são. Ao final de cada dia gosto de fazer um tiquizinho (quase sempre verde) nas atividades que realizei ou um símbolo que significa tarefa adiada/postergada naquilo que não foi alcançado, como num bullet journal. Geralmente o símbolo são dois maiores que: >>.

Depois dos tics gosto de riscar o quadradinho do dia com um Xis. Sempre de vermelho. Esse hábito de riscar os dias que já foram peguei na Folha. A Teka falava que parecia coisa de prisioneiro cumprindo pena e contando quantos dias faltam para a liberdade. Acho que para mim tem mais o sentido de lembrar que o que já foi, já foi, passou, não tem mais o que fazer.

O ano passado eu voltei a fazer um diário, que mantive mais ou menos regular, até que veio a pandemia e a derrubou.

Até março de 2020, a cada mês eu rasgava as folhinhas do meu calendário do it yourself e jogava fora. Na maioria das vezes rasgando em vários pedaços. Em abril, passado o primeiro mês de confinamento, quando estava tentando lembrar o que tinha feito naqueles trinta dias para um projeto de escrita simplesmente não consegui. 

Os dias todos muito iguais. Nada marcante diferenciando uma segunda de uma quarta, a memória nublada, resolvi não mais me desfazer do calendário terminado. A justificativa que dei para mim mesmo é que isso vai me ajudar no exercício de resgate do que fiz ao longo do ano, para daqui a pouco, quando chegar o momento de fazer minha retrospectiva, eu tenha um registro do ano que corre.


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