segunda-feira, 12 de junho de 2017

Nizan


Nesta semana acontece na SP Escola de Teatro (Praça Roosevelt, 210) algumas apresentações do espetáculo "Pobre Super-Homem ou o Avesso do Herói", de Brad Fraser.

A peça, que eu tive a sorte de assistir no final do ano passado, tem a Renata Peron no elenco. Foi a Renata que apareceu na timelaje divulgando o evento.

Em um momento da peça a Renata compartilha o episódio de transfobia que sofreu, quando foi atacada por um grupo de skinheads e acabou perdendo um rim.

Deve ser por isso que voltando pra casa e pensando na vida uma frase ficou ecoando na minha cabeça: "É preciso ser muito macho pra ser gay neste país".

Eu ouvi muito essa frase nos meus anos de formação e descoberta, quando era apenas um adolescente cheio de hormônios descobrindo e procurando aceitar minha própria homossexualidade e a dos outros.

Isso foi há uns 15 anos.

Passado esse tempo. Conhecendo mais pessoas e vivenciando a diversidade a gente vai questionando tudo aquilo que ensinaram pra gente. E em dois tempos eu desfiz esse raciocínio tão comum.

Pautado apenas e apenas na minha vivência e na posição de observador da vida alheia é possível afirmar que em 2017, em uma cidade grande como São Paulo, ser gay é bolinho.

A vida tem seus perrengues? Claro que tem. Acontecem episódios de homofobia? Mais do que seria aceitável em um país que se pretende evoluído.

Mas precisa ser macho pra ser gay?

Acho que não.

No geral, quando se consegue se desprender de experiências e pessoas tóxicas e homofóbicas, a vida de um gay padrão de classe média é até bem da confortável.

Agora, ser travesti. Mano. Deve ser muito mais difícil. O risco e a violência a que elas estão submetidas é de doer. Sem falar nas agressões, estar fora do mercado formal de trabalho, não ter acesso à educação garantido e muitas vezes ser expulsa de casa pela própria família.

Isso sim é de lascar o cano.

Sinal dos tempos ou sintonia meio estranha, no dia seguinte a essas minhas reflexões o publicitário Nizan Guanaes publicou na Folha uma coluna com o título "É preciso ser muito macho pra ser gay neste país".

Apesar da boa intenção e da declaração de apoio à causa gay, o texto vem com um tom que soa meio anacrônico. De novo. É preciso ser macho pra ser gay neste país?

É inegável que é preciso de coragem pra quebrar as barreiras do preconceito, além de uma boa dose de paciência, autoestima e inteligência para lidar com ignorância, preconceito e burrice até de gente conhecida e querida.

Mas, em um momento histórico no qual a gente já tem consciência de que a homofobia tem raiz ali na misoginia e no machismo, no ódio às mulheres e em tudo o que é feminino, é no mínimo temerário fazer essa afirmação.

Ai. hétero né. Esse povo sem perspectiva que fica em casa vendo Faustão. Ninguém mandou pra ele o memorando sobre as novas diretrizes do "neomovimento LGBTTQIA+" então ele não é obrigado a estar por dentro da pauta da “bolha gay”.

Ainda assim é bem equivocada a utilização da figura do macho como sinônimo de coragem. Close errado. Diante da necessidade da valorização do feminino em nós, dos questionamentos acerca da normatividade de gêneros, manter este tipo de associação é bastante dispensável.

Ninguém precisa ser macho. Nem os “machos”. Macho, queridxs é sinônimo de tudo que há de ruim no mundo atualmente. Tão, sorry, mas esse discurso já não dá mais para colar. É preciso repensar e assumir a defesa de identidades mais fluídas.

Afinal, se é pra ser algo, que seja pra ser todo dia mais bicha, todo dia um level a mais igual pokémon. =)

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