As grandes poças em si nem seriam grandes problemas não fosse o terrível cheiro que tomou conta de toda a imediação.
Não houve quem não tapasse o nariz diante daquela quebra tão inesperada no ritual de compras para as festas dos próximos dias.
Era tão nojento o cheiro de coisas - sabe-se lá quais coisas - decompostas que era impossível ficar indiferente a ele.
Era um odor que impregnava o nariz, que contaminava o ar, que embrulhava o estômago e provocava até ânsia de vômito.
E era só o que faltava mesmo, vomitar nas proximidades de um dos cartões postais da cidade.
Mas a espécie humana e sua capacidade de adaptação nunca deixa de surpreender.
Ainda que o futum invadisse até mesmo o espaço do Mercadão, a vida não deixou de acontecer por causa disso.
Carros cruzavam as ruas, pessoas tentavam se proteger da chuva como dava, aglomerando-se debaixo de toldos e marquises, compartilhando espaços restritos, dividindo o calor que emana de corpos molhados.
O comércio de queijos ia bem, apesar de o odor insistente prejudicar o paladar na hora de experimentar texturas e qualidades.
Castanhas e frutas também eram vendidas em abundância, bem como peixes, carnes e afins.
Se antes da chuva o clima era de magia e alienação devido à proximidade da data, depois que ela passou o cheiro imprimiu a forte presença da realidade a todas as narinas ali.
Não havia como escapar de nossos fracassos todos sintetizados naquela fedentina repentina. Não era possível camuflar mais nada. Más escolhas administrativas, ambientais e políticas resultaram naquilo. Aquele fedor era a mistura de todos nós.
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