segunda-feira, 23 de outubro de 2017

The Clock


Eu sei que tá rolando a Mostra, que daqui a pouco tem MixBrasil e antes disso tem Satyrianas e Balada Literária, mas tentem colocar na agenda algumas horinhas para ver “The Clock” uma das coisas mais legais em cartaz/em exibição em São Paulo e com entrada gratuita no Instituto Moreira Salles.

Pude ficar só uma hora ontem, mas a experiência é muito legal e pretendo voltar em breve para passar mais um tempo lá.

“The Clock” é ao mesmo tempo um filme e um relógio. Para ser mais preciso, a obra é uma instalação de um artista chamado Christian Marclay. Ela é composta de pequenos trechos de outros filmes em que há um relógio em cena ou menção à hora equivalente. Desta forma a hora apresentada na tela está em sincronia com a hora da “realidade”.

A montagem traz material de cem anos de história do cinema, sobretudo americano.

São muitas cenas e é muita coisa para prestar atenção, mas peguei “Amélie Poulain”, “O Exorcista”, Al Pacino em dois filmes - um deles “O Advogado do Diabo” -, Debra Messing, Samuel L. Jackson e Ben Affleck, que eu sempre disse que seria um bom Batman.

Senti como meu repertório cinematográfico é limitado. Deu vontade de ir pra casa, assistir ao smilhões de filmes baixados, deu vontade de ficar ali, deitado/sentado por horas a fio, vendo o tempo passar na tela em milhões de referências para a vida.

Deu uma puta curiosidade de pensar como em tudo foi feito, no trabalho que deve ter dado para editar e no tanto de tempo que demorou para o filme ficar pronto. Deve ter sido muito. Há arte até no fazer e na concepção de uma obra coma essa.

O que eu mais gostei é que “The Clock” tem uma narrativa própria, que pode ser acompanhada de qualquer ponto e que pode ser abandonada em qualquer ponto, inclusive talvez seja interessante dedicar algumas horas para a contemplação. Ver o filme de madrugada ou de manhãzinha pode ser uma boa experiência.

Diversos aspectos do cinema podem ser entendidos ali. Direção de arte, direção de atores, fotografia, dramaturgia, montagem e sonoplastia. Foi muito legal, por exemplo, prestar atenção aos efeitos de sons de um filme de kung-fu em que cada soco e chute é acompanhado de um som totalmente artificial produzido num estúdio.

Para além de toda a fruição estética e intelectual da coisa, ter visto “The Clock” me pegou muito porque vem coroar um ano em que eu fiz uma série de cursos teóricos sobre as etapas de produção cinematográfica no Sesc Pompeia e que foram um bálsamo para a incerteza permanente e agoniante que é “o que é que eu faço agora?”.

Tem um texto bem bom que saiu na Folha sobre a instalação, aqui. Recomendo a leitura, mas depois da visita.

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