domingo, 26 de julho de 2020

Reconhecer que era eu

Todo mundo já deve ter passado por aquele momento meio estranho meio Black Mirror quando após mencionar a intenção de comprar um produto em uma conversa casual que pode ser analógica ou por facilitadores digital a linda do tempo aparece carregada de promoções ou anúncios do item citado.

É o tal do algoritmo, é  “1984”, é a gente entregando voluntariamente nossos dados, momentos, produções de saberes, privacidades e intimidades para que a grande máquina do capitalismo possa funcionar em velocidade de fibra ótica, 5G, essas coisas.

A televisão aqui de casa é Smart. Já é um modelo ultrapassado, mas é Smart. Ela não é minha, mas essa é outra história. A Netflix que está logada é o minha. A conta da Amazon é da Raíra, assim como a do Mubi e da Globoplay (que funciona muito mal). A do Looke é minha, mas ainda não paguei nada nele. Só assisti coisas de graça. Globosatplay é uma conta com os dados do meu pai, porque ele que assina a Net/Claro, um login que eu acho que ele nem sabe que tem, mas eu quase nunca vejo nada de lá pela televisão, porque instalei o app esses dias só. Quarentena, né minha filha?

Pois. Eu tinha acabado há pouco de assistir a um filme na Netflix e um comentário me fez lembrar que eu queria ver um video do canal Estante Alada  Liguei no Youtube, logado na conta do meu irmão e assisti ao vídeo, assisti mais um. Procurei o Livrada!, e vi mais três vídeos.

As recomendações que aparecem na primeira página do Youtube do meu irmão são de coisas bastante específicas, umas coisas científicas, tipo Atila e Mindfield, tipo Yoga e Show da Luna, por causa da minha sobrinha.

Passei uma hora usando o aplicativo no login dele e o Youtube já sugeriu vídeos de Book Haul. Achei legal isso de bagunçar as sugestões dele que vai ficar com uma homepage mais parecida com a minha hahahaha, mas acredito que logo logo a inteligência suprema por trás desses serviços poderá reconhecer que era eu quem tava assistindo, usando a conta de outra pessoa. 
 


sábado, 18 de julho de 2020

On testing novas possibilidades

Estou testando novas possibilidades de existir neste sábado à noite.

Por exemplo, eu acabei de perceber que tomei muito pouca água ao longo do dia. E isso é um eufemismo para nenhuma água.

Também almocei tarde. Na hora da janta, que não foi das mais substanciosas, mesmo sendo lasanha.

Engraçado e curioso como os dias estão voando. Daqui a pouco é agosto e o ano acaba. Eu tô com um pouco de preguiça de existir, mas preciso dar conta das coisas pra fazer enquanto dura esse desemprego. Enquanto não terminamos o filme.

Há ao menos 10 coisas para tocar paralelamente.

Às vezes me pego preso, como agora, num misto de depressão com ansiedade e parece que nada do que eu fizer vai fazer com que eu tenha uma sensação de tempo bem aproveitado. Excesso de passado, de presente e de futuro simultâneamente.

Descansar não me descansa, filmes não andam segurando minha atenção. Séries menos ainda. Rever uma coisa que já vi parece desperdício de vida. É um sábado à noite e preciso estender roupas e botar pano de prato pra lavar.

A cabeça não concentra na leitura, minha libido está desaparecida. Pensei em botar anúncio: paga-se recompensa. Se alguém achar que faça o favor de cuidar bem, por enquanto.

No mais é isso: já que boiar não tá rolando, o jeito é nadar nessa corrente de incertezas ou se deixar levar pelo fluxo dos dias dando as braçadas possíveis e necessárias para não me afogar.

E olha que ontem eu comi esfihas. O ponto alto da semana. Além da capa nova do iPad que chegou. Uma agonia a menos nessa vida.

Daí que para lidar com o que está difícil de entender eu vim aqui escrever.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

As coisas como são

Eu estava procurando um vídeo no Facebook para usar no filme, o fluxo da timeline me levou feito enxurrada. Me deparei com um link sobre metrô de Londres ter removido um grafite do Banksy. Eu adoro o Banksy, tinha aparecido no Twitter já ele usando máscara e tals, mas eu não tinha me aprofundado.

Cliquei na notícia, mas eu tenho muita agonia dos links do Facebook, com aquele &fbclid= que fica na barra de endereços. Então apago o &fbclid= e clico de novo na notícia que tem o instagram do Banksy embedado. Não sigo o Banksy no instagram, o que é um tanto irônico, pois adoro o Banksy. Tenho duas camisetas dele, da menina que solta o balão do coração e do punk jogando um buquê de flores. Acho que tenho a da menina do Napalm com o Ronal Mc Donald’s e o Mickey, mas talvez, se tiver, está em Guarulhos.

Uma loucura não segui-lo no instagram, eu às vezes penso em tatuar algum dos desenhos dele. A menina do balão, talvez. Daí eu penso que é muito legal, né. Isso de ser misterioso e tudo o mais. De identidade desconhecida. Que a arte que fica em primeiro plano. Evita decepções, né? Vai que na vida real, como ser humano ele é meio babaca, com opiniões racistas, machistas, homofóbicas ou misóginas.

Não, alguém com esse tipo de posicionamento artístico não poderia ter uma opinião dessas. Corrijo então meu deslize de uma vida, apertando o botão seguir. Não vejo vídeo, pois preguiça de ver vídeos enquanto penso na notícia. O metrô de Londres proíbe terminantemente grafites então remove o do Banksy, mas afirma que talvez liberem um espaço para ele. Daí deixa de ser contestatório, ou não? Perderia a força da intervenção, certo?

Em todo caso, uma nova timeline me atrai com seu fluxo. Dessa vez são os Stories. Isso porque eu tava com preguiça de ver vídeos. Mas fazia tempo que nada do Chico Lima aparecia pra mim e da última vez era uma homenagem de aniversário para um amigo (ou seria um boy? – não ficou claro) que eu achei tão legal. Então vejo, ele divulgando uma feijoada vegana do SubteVegan que me encheu de vontade, então passo a seguir o comércio. Vai que sobra uma graninha no malabarismo orçamentário pra pedir uma comida diferente qualquer dia desses.

Continuo vendo os Stories do Chico, ele replica a página da produtora de Tremor Magnífico, que estreou um pouco antes da pandemia. Não deu tempo de ir ver. Eles estão vendendo o libreto da peça. Já que não é possível estar no teatro é um modo de dividir o trabalho com o mundo. Passo a seguir a Jasmim Produção, mais informações no link na bio. É um linktree. Gosto demais desse conceito.

Vou parar no Youtube. Há um teaser de Lobo no canal. Choro sangue. Saudades Lobo. Fui ver duas vezes essa peça no começo do ano, no verão sem censura. Tinha visto ano passado, na MIT também. Queria a camiseta de Lobo, da faca. Não tinha mais o meu tamanho. Há também uma entrevista com a Carolina Bianchi, que está muito boa, onde ela fala um pouco do seu trabalho e do seu processo artístico.

Eu tô desde março do ano passado pra escrever um e-mail para Carolina pra dizer o quanto Lobo foi importante na minha vida. Lembro da história do Amyr Klink, que a Jout Jout contou uma vez no canal. Ele sai para navegar o mundo e dá uma missão para o caseiro, que ele consertasse uma janela. Amyr volta depois de dois anos. A janela ainda está quebrada. O caseiro diz que não deu tempo pra fazer o conserto. Fico pensando nas minhas janelas quebradas. O tempo para quem está em trânsito é diferente para quem está preso, confinado, quarentenado, sem poder escapar de um país, de uma realidade.

As pequenas coisas vão demandando atenção, a vida vai passando e de repente quando a gente olha, puxa já passou tudo isso. O tempo que leva para dar a volta ao mundo é o mesmo que leva para não se fazer nada. Eu só queria poder agarrar o tempo com as mãos e controlar ele um pouquinho que seja.

Meus acúmulos me aborrecem. Listas de coisas pra fazer, ler, escrever, ouvir que só crescem em direção ao infinito. É um tanto quanto exaustivo. As coisas, né, como são. Penso tudo isso com saudades de Lobo e vendo o teaser e o quão maravilhosa foi aquela peça. Daí pego o Shazam, que amo esse aplicativo, e ele me mostra que a música da peça-teaser, chama Eternity, de um tal de Vitalic.

Procuro no YouTube e acho esse vídeo aqui que fico apaixonado. Descubro um novo filme para ver. O Conto dos Contos. É com a Salma Hayek. Dá vontade de ver Frida de novo. E Assunto de Meninas. O filme é de 2015. Tem na Globoplay. Lembro de onde estava e o que eu estava fazendo naquela época. Foi um dos piores anos da minha vida. Tinha coisa pra viver e descobrir, mas me atirei numa fogueira em uma ilusão de amor. Talvez seja a hora de tirar uns atrasos e tentar consertar mais janelas já que não dá pra sair pra navegar.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Nota cítrica

Estava com sono na mesma proporção em que estava com vontade de comer uma laranja. Então decidiu chupar uma laranja antes de dormir. Foi até a cozinha, onde cortou a laranja em quatro partes. Estava doce a laranja. Não tão doce quanto as laranjas bahia, que tinha comprado na semana anterior. Quatro por dez, um absurdo de caro, mas valeu o investimento porque estavam dulcíssimas. E tinham tambéms vistosas polpas vermelhas que aguçavam a visão antes de agradar ao paladar. Laranjas. Poderia ser um texto sobre o governo do país, mas é só um texto sobre aquela vontade inesperada que dá de comer uma laranja antes de dormir.