sábado, 13 de julho de 2019

Da agonia que dá quando falam não gostar de política

Porque foi isso que nos trouxe até aqui.

Vou me repetir mais uma vez. Mas talvez sejam tempos esses de se repetir para ver se se é compreendido, apesar da minha preguiça de dizer o óbvio, talvez seja mesmo necessário.
Faz tempo que eu não ouço isso diretamente. Sobre vocês não gostarem de política. Sobre os brasileiros não gostarem de política. E vocês não fazem ideia do quanto isso me entristece muito.

Porque a política está em cada detalhezinho do dia a dia de cada um. Da sua orientação sexual, ao livro que você lê ou não lê. Daquilo que você assiste, consome até à estética do mundo que te cerca.

Se para um casal de pessoas do mesmo gênero, andar de mãos dadas é uma atitude política, por que é que se tem tanto ranço assim de discutir política, se também no fundo, discutir política é discutir afetos?

Talvez as pessoas fiquem desconfortáveis em falar sobre sentimentos, afeto, sexualidade, ou até mesmo sobre sexo e jeitos mais legais e interessantes do que os que estão aí.

Não o sexo escrachado e pornográfico que é presente na cultura brasileira de modo geral, explícito em nossas músicas ou telenovelas. E por escrachado e pornográfico não interpretem aqui que estou fazendo juízo de valor, porque não estou, porque adoro e inclusive quero.

O que estou querendo dizer é que é preciso urgentemente inventar novas formas de discutir sexo e política. Rasgar todo o véu de moralismo hipócrita que cobre essas atividades e falar sobre esses assuntos de maneira honesta e franca.

Falar. Tenho aprendido em sessões de terapia que a fala tem um potencial de cura imensa. Que falar e nomear as coisas é um processo que por mais que seja doloroso e difícil é necessário.

E que falar faz com que os monstros que habitam dentro da gente mudem de tamanho. É como se, em contato com o ar, eles diminuíssem. Mas para isso funcionar também é necessária uma escuta ativa, não só da parte de um interlocutor, mas sobretudo daquele que está falando.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Sobre não gostar de quem reclama de tudo porque existem trabalhos piores

Atraso-me um pouco para um compromisso às nove da manhã. Porque marcam as coisas tão cedo neste país logo no pior horário de deslocamento da cidade com ônibus e metrô tudo cheio. Mas o evento foi legal.

Minha memória me transporta para um período da vida de segurem a lista, please. Uma ilusão. A lista nunca era segurada. Ninguém tinha esse poder. Mas havia um efeito tranquilizador em meio à correria de que você não era a única pessoa naquela situação, correndo contra o tempo.

Passo pela frente de um hospital onde fui fazer exames uma vez. Check-up. Rotina. Coisa assim do coração, porque meu avô teve infarto, sabe. Nada demais. Deu tudo certo. 

O exame era aquele que você tem que ficar vinte e quatro horas com a maquininha no braço para ela anotar sua pressão cardíaca durante as atividades do dia a dia.

Bons tempos aqueles. Tinha plano de saúde naquela época. Ainda que fosse um plano que te descontasse a partir de não sei quantas consultas, sabe-se lá a partir de quantos exames. Co-participação, que chama.

E tinha gente que falava mal. Sempre tinha. Nunca tava bom. É que ainda que estivesse bem longe do ideal e tivesse umas gramas muito mais verdes por aí, a situação não estava tão ruim. Havia e há realidades piores.

Mas daí vai de cada um. Eu, de minha parte, fico aqui pensando que as experiências que vivo me enriquecem espiritualmente e me deixam mais grato.

Tem sempre uns períodos da vida em que o sol tá de rachar e não tem uma árvore para te proteger desse calor. Então quando você encontra uma sombra, ainda que seja de uma nuvem providencial é bom aprender a aproveitar.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Nunca ignore um mercúrio retrógrado

A sensação é a de correr contra um tempo que parece nem estar se mexendo, ou que está indo para trás.

Como se fosse aquelas esteiras de academia, mas é uma esteira de tempo. Imaterial. Quando você está atrasado e isso tem acontecido com frequencia, o tempo rodopia.

Agora você tá no seu compromisso, o seu trabalho, na sala de espera da consulta, naquela reunião que poderia ter sido um email, daí é osso.

Pode passar os três senhor dos aneis versão estendida que o tempo não vai passar. É 14 horas quando começa é 14 e um quando termina.

Bem vindos a julho, o mês mais gigante do ano até agora. Lembrei que mercúrio ficou retrógado semana passada. 

Ainda não esqueci nada, equipamentos eletrônicos funcionando e que continuem assim. O metrô tem estado bem cagado, mais cheio que o normal. Com certeza é isso. Astrologia explica. A verdade está lá fora e a lua está crescendo e linda lá em cima. Lembrem-se sempre de olhar a lua no céu. É poesia de graça.

Mas esse tempo que não passa. Esse frio que enregela os ossos e a alma. As obrigações, elas aumentam, na contramão de um tempo que arrasta correntes e quando você vê já foi.

Porque quando se está mais velho os anos passam mais rápido. Lembra, há três eras quando falávamos lá no longíquo dia 1º de julho de 2019 que metade do ano tinha passado? E agora faz 84 anos que é julho.

Eu hein. É por isso que não dá pra ignorar os efeitos de um mercúrio retrógrado, nunca. Mercúrio retrógrado é sempre época de reavaliação.

Daí que Saturno também está retrógrado. E Plutão também talvez esteja. Desse eu já não lembro. Vou ali olhar e já volto. É tá sim. Até outubro. E também em capricórnio

É muito planeta retrógrado pra lidar, é muita reavaliação pra fazer. Tava reavaliando umas coisas por aqui e tava na hora do planeta Terra explodir. Eu por mim, me dava por satisfeito.

terça-feira, 9 de julho de 2019

Ó o pesadô!

Eu fiquei assim pensando. Sabe quando você vai no mercado e compra um quilo de alguma coisa. Sei lá. Pode ser batata, tomate, carne.

Pode ser até um litro de leite, já que um litro é igual a um quilo, né. Equivalências.

Pois bem. Digamos que sejam três quilos né. Às vezes é bem complicado voltar para casa carregando sacolas pesadas e tudo mais.

E você veja só, você só foi até o mercado, logo ali perto. Andou sei lá, só alguns quarteirões. E também teve dinheiro pra comprar isso. Comida. Porque de novo está faltando dinheiro para o básico.

Três quilos de qualquer coisa já é bem mais pesado. Se a gente mudar o valor, fica mais difícil ainda.

Vamos pensar assim, numa quantidade que existe. Vamos pensar em cinco quilos. Um pacotão de arroz pro mês, em média.

Uma caixa de leite. Com 12. São doze quilos, certo? Como já falamos ali em cima.

O ponto em que eu estou querendo chegar é que quilos pesam. Um quilo tem seu peso, três também, cinco então, nem se fala. Doze é bem puxado. E galão então, de água. Daqueles de 20 litros. Requer um esforço, concordam? Sem falar que é um volume que chama a atenção.

É que eu não consigo deixar de pensar como é que faz para transportar para outro país, trinta e nove quilos de qualquer coisa.

Geralmente essas coisas pesam. E só de pensar nesse peso todo já dói até as minhas costas e a minha lombar.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Valores

Não sei se vocês sabem, mas já há muitos anos que eu guardo o hábito de ler a coluna da minha amiga Mônica Bergamo.

Pois bem.

Há algumas semanas, quando a Odebrecht abriu pedido de recuperação judicial os números da dívida da empresa vieram à tona.

E eu que sempre acho que nada mais vai me surpreender nesta vida, fico de novo boquiaberto.

Na verdade nem é uma surpresa, ou espanto da minha parte. Trata-se mais de uma indignação antiga, que vai sempre se atualizando.

Na lista de credores da empresa há ex-executivos, que inclusive foram delatores da Lava Jato. 

E entre os montantes para serem pagos a esses senhores há valores na casa dos milhões. Mas calma. Fiquem indignados comigo. Não me deixem chocado assim sozinho como aqueles pastores que pregam com a Bíblia em praça pública desdizendo as bichas.

Não são assim milhões de um milhão para cada um. São milhões do tipo 14 milhões para um, 16 milhões para outro, 24 milhões, 74, 80 e 285 milhões.

O legal de escrever e deixar as coisas registradas no tempo é que há uns bons anos, no começo da minha vida adulta, ainda no primeiro ano de faculdade eu era um jovem sem trabalho nem perspectiva de um, me chocando com uma altas quantias de dinheiro que sempre aparecia na mídia em casos de corrupção e escrevi que enquanto uns poucos tinham milhões eu precisava de uns trocados para carregar o bilhete único.

Digo que é legal ter esse registro, porque pouco mais de dez anos passados, continuo sendo um cara precisando de dinheiro para carregar o bilhete único. A diferença é que no momento me encontro em uma situação de semi-emprego, que vem a ser melhor que um total desemprego, mas que está bem longe de ser o ideal assim, para pagar as contas e viver deboas.

Porque o elã todo onde quero chegar é o que se faz com tanto dinheiro? Porque não se precisa de tanto assim para viver uma vida razoavelmente feliz, confortável e com afeto, aproveitando o tempo que se tem.

Não tô dizendo aqui que sou o próprio Buda ou que vivo uma vida frugal. Perto de muita gente eu sou um privilegiado em muitas instâncias, ainda que num campo muito pessoal não estou muito perto de estar como gostaria.

Sei lá. Para mim continua tendo muita coisa errada em alguns ganhando muito, rios de dinheiro, enquanto outros passam sede, literalmente.

De maneira geral, individualmente é possível fazer exercícios de desapego, de menos consumismo, de uma mentalidade anticapitalista. Repensar hábitos de consumo e vida. Quais são as estruturas sociais que se mexem com a sua atuação na vida pública? Fico curioso para saber se coletivamente esse tipo de postura também é viável.