Vou me repetir mais uma vez. Mas talvez sejam tempos esses de se repetir para ver se se é compreendido, apesar da minha preguiça de dizer o óbvio, talvez seja mesmo necessário.
Faz tempo que eu não ouço isso diretamente. Sobre vocês não gostarem de política. Sobre os brasileiros não gostarem de política. E vocês não fazem ideia do quanto isso me entristece muito.
Porque a política está em cada detalhezinho do dia a dia de cada um. Da sua orientação sexual, ao livro que você lê ou não lê. Daquilo que você assiste, consome até à estética do mundo que te cerca.
Se para um casal de pessoas do mesmo gênero, andar de mãos dadas é uma atitude política, por que é que se tem tanto ranço assim de discutir política, se também no fundo, discutir política é discutir afetos?
Talvez as pessoas fiquem desconfortáveis em falar sobre sentimentos, afeto, sexualidade, ou até mesmo sobre sexo e jeitos mais legais e interessantes do que os que estão aí.
Não o sexo escrachado e pornográfico que é presente na cultura brasileira de modo geral, explícito em nossas músicas ou telenovelas. E por escrachado e pornográfico não interpretem aqui que estou fazendo juízo de valor, porque não estou, porque adoro e inclusive quero.
O que estou querendo dizer é que é preciso urgentemente inventar novas formas de discutir sexo e política. Rasgar todo o véu de moralismo hipócrita que cobre essas atividades e falar sobre esses assuntos de maneira honesta e franca.
Falar. Tenho aprendido em sessões de terapia que a fala tem um potencial de cura imensa. Que falar e nomear as coisas é um processo que por mais que seja doloroso e difícil é necessário.
E que falar faz com que os monstros que habitam dentro da gente mudem de tamanho. É como se, em contato com o ar, eles diminuíssem. Mas para isso funcionar também é necessária uma escuta ativa, não só da parte de um interlocutor, mas sobretudo daquele que está falando.