quinta-feira, 23 de março de 2023

Custa muito caro ser uma bicha inteligente

Comecei a ler "Retorno a Reims" porque eu precisava ler uma coisa gay depois de toda a heterossexualidade sufocante de Via Ápia. Queria mesmo ter começado o "Johnny, Você me Amaria se o Meu Fosse Maior?", mas quem disse que achei o livro?

Então peguei o livro do Didier Eribon, que eu fico chamando na minha cabeça de Didididier e que delícia.

Tem uma sofisticação e uma racionalidade na escrita. Uma coisa entre o filosófico e o sociológico (ele é sociólogo). Uma mistura de Annie Ernaux e Édouard Louis. Enquanto com Édouard você apanha na cara e leva umas cusparadas junto com ele, a Ernaux se aproxima, mas também mantém um afastamento.

Pelo menos foi a minha impressão de "O Lugar". Mas "Retorno" é diferente, até um pouco frio e distante.

"Retorno" fala de um tema que me toca muito. O distanciamento que se faz necessário da família e tudo que aquilo que ela traz quando se é gay. A busca pela formação da nossa identidade e da nossa formação subjetiva passa longe desse modelo em que o acolhimento é falho e as referências não nos cabem.

Em Ernaux o distanciamento acontece com o acesso ao ensino superior. Os ditames da classe são rompidos, mas as questões e gênero estão lá.

No Didididier a escrita é mais reflexiva. Tem muitas referências. Vou ter que enfim pegar "Notas de Um Filho Nativo", do James Baldwin por causa dele.

Tem também que ele escreveu "Reflexões Sobre a Questão Gay", uma biografia do Foucault. E eu tenho namorado o Foucault há um tempo. O livro foi publicado por aqui em 1999, quando eu tinha apenas 12 aninhos. Hoje ele está mais de R$ 300 no Estante Virtual.

Custa muito caro ser uma bicha inteligente.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Antes, agora e depois

Antes,

            antes de dormir eu via um episódio de Batman por dia. Eu assistia lá pra meia noite e meia, uma da manhã mais ou menos, um episódio da série animada, aquela que a gente ama desde criancinha e com a qual crescemos e nunca assistimos completa.

Nessa pegada eu consegui terminar o primeiro volume dos DVDs. Depois eu descobri que tá tudo assim meio fora de ordem os episódios mais ou menos. Eles não batem com o IMDb ou com algum site de fãs. Algo aconteceu e parei de ver quando comecei o segundo disco do segundo volume da coleção. Nunca mais voltei.

Demorei anos para conseguir completar essa coleção de DVDs. O primeiro volume é pirata e eu comprei depois do segundo. O segundo eu comprei na Argentina, em 2010. Os volumes três e quatro foram adquiridos em momentos entre 2012 e 2014, mas seguem intocados.

Eu tava assistindo nessa pegada – um por dia, antes de dormir – no ano passado como um ritual de autocuidado, atrelado ao momento de me desligar, passar um creme hidratante no rosto, ver um desenho por uns vinte minutinhos e dormir.

Mas daí eu acho que comecei a ficar com sono mais cedo, ou mais tarde, ou alguma coisa fez com que a rotina fosse maculada e eu abandonei mais uma vez a minha tentativa de assistir todo esse desenho.

Daqui a pouco ele deve estrear no(a) HBO Max.

Agora,

            acaba a aula eu deito na minha cama, viro para o lado e durmo. Às vezes me retiro da aula online antes de ela acabar, viro para o lado e durmo. É o sono que dita isso. É o sono que manda. Agora, quando muito, eu vejo um episódio de Looney Tunes das antigas (os que estão no(a) HBO Max). A duração de cada episódio é de sete minutos e mesmo assim dou umas grandes pescadas.

Depois,

            só o tempo dirá.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

E assim vou indo

Quem é que quer ficar preso nas próprias regras que inventa para si?


Eu que não.


Por isso que tem uma pilha de louças acumulada na pia. Não consegui dar conta de lavar de ontem pra hoje, nem no final de semana. Entre segunda e terça rolou, mas daí eu fui inventar de fazer falafel.


E precisei sair já dois dias essa semana. Todo uns rolês pandêmicos e cansativos.


De modo que meu grande feito de hoje. Foi ter passado duas fase de Super Mario World, sendo que em uma delas eu estava sem conseguir avançar há umas duas semanas pelo menos. 


Mas eu arrumei a cama, almocei, gravei três vídeos para o meu canal, escrevi um elã pra um edital e tenho uma reunião em breve. 


E assim vou indo.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Cuidados básicos ou quando um copo não era só um copo

Tenho sentido uma necessidade de me tratar com mais carinho nesses últimos dias.

Depois de uma leitura de tarô feita pelo Juca Xavier, ele recomendou que eu tomasse chás para acalmar a ansiedade. Também fez indicações de uns banhos.

Eu não fui atrás das ervas para o banho e nem sou muito dos chás. Essa semana fiquei todo ansioso por umas coisas aí da vida e pensei em fazer o tal do chá.

Não tinha de camomila, fiz de capim-cidreira. Meio que funcionou. Fiquei pensando mais no efeito de parar de ficar alimentando a ansiedade e focar em outra coisa: encher a caneca de água, colocar para esquentar, esperar ferver.

E sentir o calorzinho na mão na hora de beber. Fora que tomar coisa em caneca parece uma coisa muito adulta, muito chique. Coisa de gente segura, que sabe o que faz da vida.

Então parei, sentei no tapete da sala em posição de lótus e resolvi me concentrar em beber meu chá. Picaretas dirão que é mindfulness ou o poder do agora. Pode ser. Mas para mim foi mais como uma questão de dar uma pausa na angústia que afinal não tinha tanta questão de ser.

Que mais?

Decidi esta semana testar uma coisa nova. Não dormir com louça para lavar na pia. Ontem quase que eu deixo, porque tive sono um pouco mais cedo, mas lavei ainda assim e até agora tá 10/10 esse projeto.

Semana passada eu sozinho em casa a louça parecia a de um batalhão, como diria meu pai.

E fiquei também pensando em como a louça, de tudo que a gente tem para fazer na vida, traz essa carga simbólica. Não teve como deixar de lembrar de outros textos, registros de outras fases na vida em que um copo na pia na casa da minha mãe era motivo para uma guerra nuclear.

É bom não viver mais tanto num inferno ao mesmo tempo em que é curioso pensar que um copo não era só um copo. Era a síntese de uma relação pra lá de complicada, diferenças de gênero em relação às obrigações de cuidados com a casa, sobrecarga mental, fadiga, cansaço, entre outras coisas.

E para finalizar, ainda nessa toada de repensar cuidado e afeto para comigo, fico sempre lembrando de um tuíte da Adelita falando que não precisa se estapear na hora de passar um creme no rosto.

Preciso estar sempre atento a este movimento, porque não sou muito dos cremes e não tenho uma rotina de skin care. Mas minha pele tem estado bem ressecada nos últimos dias e com umas manchas que podem ser de estresse pandêmico ou alergia a itens não identificados (poeira, talvez?, quem há de ter certeza?).

E é impressionante a rudeza e a pressa com que eu levo minhas mãos com o hidratante ao meu rosto. Então estou tentando fazer este exercício de aproveitar o momento para massagear a minha cara e tocar a minha face com carinho e delicadeza.

Tenho tentado levar estes momentos de - haha - “atenção plena” também para o banho dos últimos dias.

Seja por definhamento, preguiça, tristeza ou depressão da quarentena, confesso que às vezes pulo uns banhos nesses dias de isolamento social em que falta vontade de viver fazer as coisas e o banho vira mais um item na lista interminável de tarefas (mas de arrumar a cama eu gosto).

Acho que foi depois de um vídeo no instagram do Ricardo que eu fiquei mais com isso na cabeça, de tentar estar mais concentrado nos toques quando estou debaixo do chuveiro.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Sobre a força

Grandes tragédias não tem momento para acontecer. Eu, por exemplo, vim ao mundo às uma e catorze da tarde de um primeiro de janeiro. Isto posto não devo me alongar que tenho questões com a dita data. Então, em prol de uma atitude mais condizente com a vida e com o correr dos dias em si, sugiro que a partir do próximo Réveillon não mais nos desejemos uns aos outros um Feliz Ano-Novo. Um grande FORÇA! deverá ser muito mais eficiente.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Combustíveis

É engraçado, curioso, triste até, que meus pequenos prazeres de alguma forma remetam a essa bosta desse governo que pessoas a quem fui ensinado que devia amar ajudaram a eleger. Já falei em mais de um aqui sobre laranjas, de suas redondezas e suculências. De suas acidez e doçura. Do prazer que é comer uma bem geladinha. De um momento singelo de felicidade no dia. Ano passado eu bebi muito pouco. Deve ter sido o ano que menos bebi na vida desde que comecei a beber. E de certa forma passei bastante sem açucares industralizados. 

Nesta segunda temporada de 2020 também conhecida como 2021 a ansiedade está gritando mais. Daí de ontem para hoje eu já acabei sozinho com uma caixinha de leite condensado. É o que tem sido o combustível por aqui tentar transformar glicose em serotonina e torcer para que não vire diabetes. Encher o rabo de leite condensado. Eu não quero falar sobre bolsonarismo, mas essa bad vibe tá difícil de desgrudar de mim.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Ano passado eu escrevi um texto

Sabe, Alê, eu te amo. Mas amo você, como amo o Vitor, o Ricardo, o Danilo, o Anderson e o Mateus. Meu coração é grande, que que eu posso fazer? Minha Vênus é em Escorpião. Esse vai ser até o nome do meu segundo livro de contos, porque o primeiro já está pronto, mas ainda falta revisar, e se chama Rapidinhas. Se bem que Vênus em Escorpião já virou até uma música que a gente nem gostou tanto assim e olha que é da Gaby Amarantos. Mas tudo bem. A gente banca essa bronca do mesmo jeito, quando chegar a hora de brigar por isso. Ademais, por enquanto a gente tem um título, mas não tem os contos escritos ainda. Nem sequer esboçados. Então, como diz a Raíra, cruzaremos a ponte quando chegarmos a ela. Daí quando a gente chegar na ponte a gente pula dela. E fim e novo começo. Ou a sensação de que a gente vai se repetir, de novo e de novo e mais uma vez, só para variar. Eu ia falar que eu amo tanto que tenho até uma camiseta que tem escrito que Love happens all the time que o amor acontece com o time todo. Quem me dera.

Ano passado eu escrevi um texto depois de ter levado um pé na bunda. Nem foi bem isso que aconteceu, mas tudo bem. Só penso que é fascinante como narramos nossas histórias. Então volto. Ano passado, depois de ver que não haveria correspondência para com meus sentimentos eu escrevi um texto. Era um texto para um concurso – que não ganhei, a propósito – mas que me ajudou a lidar com o sentimento de abandono e rejeição. Para superar a dor de um desamor fui mudando o nome do destinatário. Um artifício criativo. Uma forma de mascarar a angústia. Fabular a dor, ficcionalizar em cima de uma realidade desagradável. O nome do sujeito aparece no texto, mas é só um dentre outros presentes. Todos começando com a mesma consoante. Usei de um expediente literário para fragmentar a identidade de quem era objeto do meu desejo naquele momento que passou ainda bem ufa.

Então, Fernando, quero te dizer que agora você é um dos meus amores, assim como o Helder, assim como o Bruno, assim como o Rafa, assim como o Eros, assim como o Junior. Sou viciado em vocês, nesses 15s de stories que vocês postam o dia inteiro e que me fazem perder mais tempo do que se eu estivesse me masturbando o dia inteiro e esfolando o meu pau porque nessa de amar demais a gente às vezes esfola o coração, porque a gente aprende a gostar e a desejar e a querer de um modo muito possessivo, tolo, capitalista, equivocado. E tudo que eu queria era poder amar cada um de vocês, presencialmente, trocando saliva, engolindo porra, sentindo os corpos de vocês do meu lado na cama, não todos juntos ao mesmo tempo, mas por que não também? Eu já disse que meu coração é enorme, sempre cabe mais um amor platônico aqui.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Uma lista de compras de 2020 que o vento me trouxe hoje*

 Amendomel

Gorgonzola

Proteína de soja

Milho mel e mostarda

Linguicinha

Salsicha

Cebola

Tomate

Filé de Frango

Atum

Farinha de trigo

Quick

Coco ralado 100g


* a lista estava no meio de um caderninho, dobrada; caiu e voou quando fui mudá-lo de lugar. De um período do ano em que tinha auxílio emergencial.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Noite das Meninas

Então em um contexto que talvez não caiba muito revelar por aqui eu me deparei com esse filme pornô chamado “Noite das Meninas”, ou no original, Girls Night Part 1.

A trama é relativamente simples, mas muito curiosa e instigante. Três amigues gays conversando entre si. Um deles solta a braba. Já pensou que legal seria ser do sexo oposto por um dia? E se isso acontecesse, o que você faria?

Sendo um pornô gay, a resposta é meio óbvia, mas eu particularmente achei interessante. Atire a primeira pedra a gay que nunca pensou em ser mulher para pegar os caras héteros?

Claro que fora do terreno das fantasias e desejos sexuais, talvez isso seja um tanto problemático. Mas enquanto filme, sem entrar nos méritos das complexidades do pornô, a premissa rende umas cenas e diálogos no mínimo engraçados e foi a isso que eu me ative.

Surge uma fadrag madrinha que transforma os três caras em fogosas e gostosas mulheres que aproveitam a oportunidade para seduzir uns boys. Cada um deles arruma um par – menos o último, que consegue uma dupla -, até que na hora H a fada gaydrinha apronta e faz com que eles voltem às suas formas convencionais.

Há um espanto e relutância dos héteros em transar com outros homens, mas é como já dizem os ditados se está no inferno abraça o capeta e como já estão na chuva, todos se molham.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

de quando eu me dei conta de que não teria São Silvestre

Não sei bem o que escrever, mas estou com vontades e ideias de alimentar isso aqui.

Dai lembrei que esses dias eu estava pensando como seria o Reveillon da Pandemia®.

Eu faço aniversário em primeiro de janeiro (dentro de dois dias portanto), então essa data tem todo um outro significado pra mim. Já foi doloroso. Agora é só daquelas coisas das quais não se tem controle e não se dá para evitar. Aprendi a aceitar. Ou melhor, a conviver.

Eu tenho uns rituais internos de final de ano. Alguns foram mudando, tanto por imposição de vida, outros por escolha.

Eu gostava, por exemplo, de tomar um bom banho de mar até quase anoitecer no dia 31. Como uma forma de limpar as energias, se renovar, se preparar para o ano seguinte.

No horário que o sol estava bem baixo já quase se pondo e a combinação temperatura amena mais água do mar me davam um enorme prazer. Uma brisa muito interna. Como se fosse uma volta à sopa primordial.

Isso me foi tirado no primeiro plantão de Ano Novo na Foto sem dó nem piedade. Odiei muito tudo isso. Passei a virada chorando de desgosto e tristeza. Vida de merda®.

Mas sobrevivi a isso. A experiência na praia, final de ano com a família expandida foi virando uma experiência desgradável de 2013 para cá. E a vó Justa foi adoecendo. Outros plantões vieram e desde então eu tenho passado as últimas viradas em São Paulo.

Quase sempre na companhia de pai e mãe + vó + Raíra e variações sobre o mesmo tema. Teve um ano que eu namorava e desse eu não gosto muito de lembrar.

Um dos meus rituais ficou sendo assistir a São Silvestre. Pela televisão, que me falta a diaposição de acordar tão cedo como vem sendo realizada a prova nos últimos anos.

E eu tenho muita vontade de um dia correr na São Silvestre. Minha relação com meu corpo nesse período teve fases e flutuações e de 2015 eu estou sem praticar atividade física de modo regular. Neste ano pandêmico então, piorou.

E eis que eu estava pensando no que eu faria no dia 31. E o pensamento automático foi: acordar cedo - que é uma coisa que já vem acontecendo - e ver a São Silvestre.

E eis que eu me dei conta de que este ano não teria São Silvestre, por conta da pandemia do corona virus. E ai meu ritual foi pro saco.

A última virada passei escrevendo. Algo que nunca tinha feito até então, porque as convenções sociais não permitiam.

Tenho passado minhas noites de Ano Novo sozinho, algo que as pessoas não entendem, não gostam, sentem medo, acham estranho e não respeitam. 

Particularmente me agrada. Amo demais ficar na minha própria companhia, no meu mundinho, com meu videogame, jogos, filmes, séries, livros. É bom o suficiente.

Quanto aos rituais e o que eu vou fazer quando a meia-noite chegar é algo que eu ainda vou ter que descobrir ou inventar.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

A pizza do Subway é um pedido de socorro

Lá para meados de julho teve um dia em que eu tava com vontade de comer pizza. Não mencionei isso numa conversa, mas ao telefone falamos sobre como fazia tempo que não comíamos no Subway. Primeiro por motivos pandêmicos, segundo porque mesmo antes da pandemia, a franquia de lanchonetes estava fechando algumas de suas unidades que ficavam em nossas rotas.

Pois foi desligar o telefone e acessar o Instagram que lá estava o anúncio. Conhecido pelos seus lanches que tinham todos o mesmo sabor, sempre, o Subway agora tinha pizza. E entregava em casa. Isso era de madrugada.

Não precisou nem de vinte e quatro horas até que alguém no Twitter fizesse o pedido e compartilhasse com o mundo sua experiência. A imagem de uma pizza cubista montada na força do ódio viralizou (risos), gerou uma série de memes e a companhia chegou a pedir desculpa nas redes sociais, dizendo que vai melhorar e tudo o mais.

Esse episódio todo, somado a vivências pelas quais tenho passado e experiências que tenho acompanhado de pessoas próximas, me fez pensar: a pizza do Subway é um pedido de socorro. Não em um sentido individual apenas, ou pelo menos não só.

Muitos dos que não ficaram desempregados nos últimos tempos, viram o rendimento cair. Quem teve a sorte e o privilégio de trabalhar de casa, precisou lidar com o aumento de pressão por produtividade, adaptação a uma rotina de reuniões e vídeo-chamadas exaustivas e a dificuldade em estabelecer o que é hora de trabalho e o que é hora de descanso.

Para quem já estava sem emprego ou em condições de trabalho intermitente, aumenta o nível de preocupação com o futuro. Se já estava difícil, neste cenário de recessão econômica e terra arrasada, o horizonte é de incertezas e desesperança. E embora represente um pequeno alívio, o auxílio emergencial não dá conta de trazer qualquer tranquilidade que seria bem-vinda nestes tempos. Todo mês é um drama sobre a data em que vai cair, se vai cair, e se o PicPay vai comer uma parte.

Neste contexto a pizza do Subway é uma síntese dos tempos em que vivemos e de um processo que vem de diminuição dos direitos trabalhistas e aumento da precarização (uberização) das condições de trabalho.

Junte-se a isso uma série de crises: política, econômica, moral, estética e civilizatória que se arrasta desde um pouco antes do golpe contra a presidenta Dilma, se eleva com a chegada de um grupo de milicianos trogloditas ao governo federal e se aprofunda com a pandemia do novo coronavirus no país.

Desta forma, além de síntese, a pizza do Subway passa a ser também um sintoma das condições em que vivemos e o que ela mostra é que não vamos sair melhores dessa. Ao contrário. Não há um mundo discutindo muito a sério modos de vida que façam sentido; em que a riqueza seja distribuída ao invés de concentrada; em que possamos nos dar ao luxo de trabalhar menos e gozar mais a vida e que o consumo não paute a construção de nossas subjetividades, bem como o patriarcado e o racismo.

O absurdo é elevado dia após dia. As iniciativas que vão na contramão da produção dos discursos hegemônicos não deram conta ainda de decolonizar imaginários em larga escala para conseguir adesão e promover novas utopias. O novo normal é o antigo normal de máscara. O novo normal é o antigo normal piorado.

O Subway passar a fazer pizzas em plena pandemia, na qual o grande ideal era isolamento e distanciamento social, é a prática de uma ideologia que prega a todo fucking instante aqueles velhos chavões de que é preciso se reinventar para sair dessa. Afinal, é preciso inovar, encontrar um diferencial, se destacar em meio à concorrência, não é mesmo?

Nesse mundo lindo das fanfics corporativas ninguém fala que isso se consegue às custas de sangue e suor de um funcionário ou funcionária mal remunerade que se expõe a riscos ao sair de casa para dar conta de fazer algo para o qual não dever ter recebido o mínimo treinamento adequado.

Não é fácil fazer pizza. Na verdade, não é que seja difícil. Eu mesmo me aventurei a fazer pizzas nestes tempos isolado. O difícil é fazer uma pizza gostosa e perfeitamente redonda e bonita. Requer prática, muito provavelmente talento. Não que eu esteja esperando que a pizza do Subway vá ser excepcionalmente gostosa. A crítica aqui é sobre o aumento de intensidade da pressão em alguém que já está em condições por si só estressantes.

Porque num belo dia um CEO tem uma ideia: vamos fazer pizza para superar a crise. E o vamos é repassado pela hierarquia da empresa, para o marketing que cria em isolamento ou semi isolamento as imagens que alimentarão as divulgações nas redes sociais e na mídia, aos donos das franquias, aos gerentes até chegar a pessoa que atendente no balcão e recebe a  informação:

- Amanhã vamos começar a fazer pizza. E você vai ser responsável!
- Mas assim do nada. Como?
- Ordens da chefia. Te vira, pois é assim que a banda toca, e é assim que o mundo gira. Não tá satisfeito, rua! Tem 14 milhões aí querendo ocupar o seu lugar.


sábado, 26 de setembro de 2020

Como se fossem coisas distintas

Assisti meio sem querer Ana Maria Braga no Roda Viva segunda-feira. Não sabia que ela seria entrevistada e a vida quis que eu ficasse sabendo assim em cima da hora.

Gosto da Ana Maria e teve uma época da minha vida em que eu acordava cedo para assistir ao programa dela. Só saía de casa para trabalhar depois que acabava.

Eram outros tempos, outras questões, outro país e outra economia. Uma época sem whatsapp e sem bolsonarismo, em que a gente ainda acreditava viver num estado democrático de direito. Saudades.

Dito isso, devo confessar que senti um grande desconforto vendo a entrevista, sem deixar de me admirar com a educação, finèsse e elegância da Ana Maria Braga ao responder às questões dos entrevistadores e entrevistadoras.

Em dado momento, perguntaram para ela sobre política e sobre ela estar sempre em cima do muro. Lisa como um quiabo, Ana Maria saiu-se bem respondendo "perguntas difíceis".

Um pequeno momento em que ela pareceu ter esquecido de um roteiro de media training foi em sua resposta quando questionada sobre racismo. Apesar de o que pareceu um ligeiro deslize para acessar o glossário pertinente ao assunto é possível classificar a resposta como irrepreensível.

Depois a pauta foi feminismo. Movimento das mulheres. União e Me Too.

E talvez o meu desconforto venha daí. Dessa noção de que política seja algo que se refere apenas e tão somente à questões de gestão e gerenciamento da vida e da ordem de países, estados e municípios.

Como se política fosse um termo que servisse para se referir apenas àquela parte específica dos noticiários ou dos jornais impresso e não a todo o resto. Como se política fosse apenas temas relacionados a governo, prefeitura, deputados, vereadores, senadores e por aí vai.

Então venho aqui humildemente para reafirmar o óbvio de que tudo, absolutamente tudo, é política. E quando Ana Maria Braga fala que faz entretenimento e por isso não se posiciona, ela e toda a bancada do Roda Viva ressaltam uma ideia de oposição onde não há.

Não há entretenimento isento de ponto de vista e viés ideológico de mundo. E estar em cima do muro já é um posicionamento bem do claro. Não dá para falar de combate a racismo, machismo, homofobia e gordofobia como se se fossem coisas distintas de política. Não são.

Uma outra parte do meu desconforto consegui identificar apenas no dia seguinte. Por mais que a entrevista de Ana Maria Braga tenha servido também para que ela compartilhasse ensinamentos valorosos e sabedoria de vida, não pude deixar de me sentir como se estivesse lendo um dos quadrinhos da série Confinada, do Leandro Assis e da Triscila Oliveira, mas isso eu talvez desenvolva em outro post, quem sabe?

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Registro do ano que corre

Não sei exatamente quando, mas passei a cultivar um hábito de fazer um calendário do mês e deixá-lo fixado na porta do guarda-roupa. É um momento de cuidadinho de mim para comigo, eu acho.

Nele anoto meus compromissos, desejos e planos para o dia, a semana e o mês. Gosto muito do momento de prepará-lo. E gosto muito do começo dos meses. Prefiro um mês novo a um Ano Novo. A expectativa que os próximos trinta dias serão melhores que os últimos trinta é bem menos excruciante do que a dos próximos 365.

Gosto de usar a régua e canetas diferentes a cada mês para traçar as linhas que formam os quadrados das datas. Uso sempre a mesma caneta de ponta fina para escrever os números dos dias.

Os dias da semana passei a escrever em alemão, para fixar. O domingo Sonntag sempre escrevo de vermelho ou rosa. Os demais dias da semana são escritos geralmente de preto, mas mês passado, por exemplo, fui de verde, pra dar uma esperança. Os nomes dos meses geralmente vêm acompanhados de piadinhas do tipo setembro chove, agosto de deus ou julho na gaita e a bicharada no vocal (amo).

A programação do dia, geralmente é escrita a lápis, para poder apagar caso mudanças na rotina sejam necessárias. Frequentemente são. Ao final de cada dia gosto de fazer um tiquizinho (quase sempre verde) nas atividades que realizei ou um símbolo que significa tarefa adiada/postergada naquilo que não foi alcançado, como num bullet journal. Geralmente o símbolo são dois maiores que: >>.

Depois dos tics gosto de riscar o quadradinho do dia com um Xis. Sempre de vermelho. Esse hábito de riscar os dias que já foram peguei na Folha. A Teka falava que parecia coisa de prisioneiro cumprindo pena e contando quantos dias faltam para a liberdade. Acho que para mim tem mais o sentido de lembrar que o que já foi, já foi, passou, não tem mais o que fazer.

O ano passado eu voltei a fazer um diário, que mantive mais ou menos regular, até que veio a pandemia e a derrubou.

Até março de 2020, a cada mês eu rasgava as folhinhas do meu calendário do it yourself e jogava fora. Na maioria das vezes rasgando em vários pedaços. Em abril, passado o primeiro mês de confinamento, quando estava tentando lembrar o que tinha feito naqueles trinta dias para um projeto de escrita simplesmente não consegui. 

Os dias todos muito iguais. Nada marcante diferenciando uma segunda de uma quarta, a memória nublada, resolvi não mais me desfazer do calendário terminado. A justificativa que dei para mim mesmo é que isso vai me ajudar no exercício de resgate do que fiz ao longo do ano, para daqui a pouco, quando chegar o momento de fazer minha retrospectiva, eu tenha um registro do ano que corre.


domingo, 26 de julho de 2020

Reconhecer que era eu

Todo mundo já deve ter passado por aquele momento meio estranho meio Black Mirror quando após mencionar a intenção de comprar um produto em uma conversa casual que pode ser analógica ou por facilitadores digital a linda do tempo aparece carregada de promoções ou anúncios do item citado.

É o tal do algoritmo, é  “1984”, é a gente entregando voluntariamente nossos dados, momentos, produções de saberes, privacidades e intimidades para que a grande máquina do capitalismo possa funcionar em velocidade de fibra ótica, 5G, essas coisas.

A televisão aqui de casa é Smart. Já é um modelo ultrapassado, mas é Smart. Ela não é minha, mas essa é outra história. A Netflix que está logada é o minha. A conta da Amazon é da Raíra, assim como a do Mubi e da Globoplay (que funciona muito mal). A do Looke é minha, mas ainda não paguei nada nele. Só assisti coisas de graça. Globosatplay é uma conta com os dados do meu pai, porque ele que assina a Net/Claro, um login que eu acho que ele nem sabe que tem, mas eu quase nunca vejo nada de lá pela televisão, porque instalei o app esses dias só. Quarentena, né minha filha?

Pois. Eu tinha acabado há pouco de assistir a um filme na Netflix e um comentário me fez lembrar que eu queria ver um video do canal Estante Alada  Liguei no Youtube, logado na conta do meu irmão e assisti ao vídeo, assisti mais um. Procurei o Livrada!, e vi mais três vídeos.

As recomendações que aparecem na primeira página do Youtube do meu irmão são de coisas bastante específicas, umas coisas científicas, tipo Atila e Mindfield, tipo Yoga e Show da Luna, por causa da minha sobrinha.

Passei uma hora usando o aplicativo no login dele e o Youtube já sugeriu vídeos de Book Haul. Achei legal isso de bagunçar as sugestões dele que vai ficar com uma homepage mais parecida com a minha hahahaha, mas acredito que logo logo a inteligência suprema por trás desses serviços poderá reconhecer que era eu quem tava assistindo, usando a conta de outra pessoa. 
 


sábado, 18 de julho de 2020

On testing novas possibilidades

Estou testando novas possibilidades de existir neste sábado à noite.

Por exemplo, eu acabei de perceber que tomei muito pouca água ao longo do dia. E isso é um eufemismo para nenhuma água.

Também almocei tarde. Na hora da janta, que não foi das mais substanciosas, mesmo sendo lasanha.

Engraçado e curioso como os dias estão voando. Daqui a pouco é agosto e o ano acaba. Eu tô com um pouco de preguiça de existir, mas preciso dar conta das coisas pra fazer enquanto dura esse desemprego. Enquanto não terminamos o filme.

Há ao menos 10 coisas para tocar paralelamente.

Às vezes me pego preso, como agora, num misto de depressão com ansiedade e parece que nada do que eu fizer vai fazer com que eu tenha uma sensação de tempo bem aproveitado. Excesso de passado, de presente e de futuro simultâneamente.

Descansar não me descansa, filmes não andam segurando minha atenção. Séries menos ainda. Rever uma coisa que já vi parece desperdício de vida. É um sábado à noite e preciso estender roupas e botar pano de prato pra lavar.

A cabeça não concentra na leitura, minha libido está desaparecida. Pensei em botar anúncio: paga-se recompensa. Se alguém achar que faça o favor de cuidar bem, por enquanto.

No mais é isso: já que boiar não tá rolando, o jeito é nadar nessa corrente de incertezas ou se deixar levar pelo fluxo dos dias dando as braçadas possíveis e necessárias para não me afogar.

E olha que ontem eu comi esfihas. O ponto alto da semana. Além da capa nova do iPad que chegou. Uma agonia a menos nessa vida.

Daí que para lidar com o que está difícil de entender eu vim aqui escrever.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

As coisas como são

Eu estava procurando um vídeo no Facebook para usar no filme, o fluxo da timeline me levou feito enxurrada. Me deparei com um link sobre metrô de Londres ter removido um grafite do Banksy. Eu adoro o Banksy, tinha aparecido no Twitter já ele usando máscara e tals, mas eu não tinha me aprofundado.

Cliquei na notícia, mas eu tenho muita agonia dos links do Facebook, com aquele &fbclid= que fica na barra de endereços. Então apago o &fbclid= e clico de novo na notícia que tem o instagram do Banksy embedado. Não sigo o Banksy no instagram, o que é um tanto irônico, pois adoro o Banksy. Tenho duas camisetas dele, da menina que solta o balão do coração e do punk jogando um buquê de flores. Acho que tenho a da menina do Napalm com o Ronal Mc Donald’s e o Mickey, mas talvez, se tiver, está em Guarulhos.

Uma loucura não segui-lo no instagram, eu às vezes penso em tatuar algum dos desenhos dele. A menina do balão, talvez. Daí eu penso que é muito legal, né. Isso de ser misterioso e tudo o mais. De identidade desconhecida. Que a arte que fica em primeiro plano. Evita decepções, né? Vai que na vida real, como ser humano ele é meio babaca, com opiniões racistas, machistas, homofóbicas ou misóginas.

Não, alguém com esse tipo de posicionamento artístico não poderia ter uma opinião dessas. Corrijo então meu deslize de uma vida, apertando o botão seguir. Não vejo vídeo, pois preguiça de ver vídeos enquanto penso na notícia. O metrô de Londres proíbe terminantemente grafites então remove o do Banksy, mas afirma que talvez liberem um espaço para ele. Daí deixa de ser contestatório, ou não? Perderia a força da intervenção, certo?

Em todo caso, uma nova timeline me atrai com seu fluxo. Dessa vez são os Stories. Isso porque eu tava com preguiça de ver vídeos. Mas fazia tempo que nada do Chico Lima aparecia pra mim e da última vez era uma homenagem de aniversário para um amigo (ou seria um boy? – não ficou claro) que eu achei tão legal. Então vejo, ele divulgando uma feijoada vegana do SubteVegan que me encheu de vontade, então passo a seguir o comércio. Vai que sobra uma graninha no malabarismo orçamentário pra pedir uma comida diferente qualquer dia desses.

Continuo vendo os Stories do Chico, ele replica a página da produtora de Tremor Magnífico, que estreou um pouco antes da pandemia. Não deu tempo de ir ver. Eles estão vendendo o libreto da peça. Já que não é possível estar no teatro é um modo de dividir o trabalho com o mundo. Passo a seguir a Jasmim Produção, mais informações no link na bio. É um linktree. Gosto demais desse conceito.

Vou parar no Youtube. Há um teaser de Lobo no canal. Choro sangue. Saudades Lobo. Fui ver duas vezes essa peça no começo do ano, no verão sem censura. Tinha visto ano passado, na MIT também. Queria a camiseta de Lobo, da faca. Não tinha mais o meu tamanho. Há também uma entrevista com a Carolina Bianchi, que está muito boa, onde ela fala um pouco do seu trabalho e do seu processo artístico.

Eu tô desde março do ano passado pra escrever um e-mail para Carolina pra dizer o quanto Lobo foi importante na minha vida. Lembro da história do Amyr Klink, que a Jout Jout contou uma vez no canal. Ele sai para navegar o mundo e dá uma missão para o caseiro, que ele consertasse uma janela. Amyr volta depois de dois anos. A janela ainda está quebrada. O caseiro diz que não deu tempo pra fazer o conserto. Fico pensando nas minhas janelas quebradas. O tempo para quem está em trânsito é diferente para quem está preso, confinado, quarentenado, sem poder escapar de um país, de uma realidade.

As pequenas coisas vão demandando atenção, a vida vai passando e de repente quando a gente olha, puxa já passou tudo isso. O tempo que leva para dar a volta ao mundo é o mesmo que leva para não se fazer nada. Eu só queria poder agarrar o tempo com as mãos e controlar ele um pouquinho que seja.

Meus acúmulos me aborrecem. Listas de coisas pra fazer, ler, escrever, ouvir que só crescem em direção ao infinito. É um tanto quanto exaustivo. As coisas, né, como são. Penso tudo isso com saudades de Lobo e vendo o teaser e o quão maravilhosa foi aquela peça. Daí pego o Shazam, que amo esse aplicativo, e ele me mostra que a música da peça-teaser, chama Eternity, de um tal de Vitalic.

Procuro no YouTube e acho esse vídeo aqui que fico apaixonado. Descubro um novo filme para ver. O Conto dos Contos. É com a Salma Hayek. Dá vontade de ver Frida de novo. E Assunto de Meninas. O filme é de 2015. Tem na Globoplay. Lembro de onde estava e o que eu estava fazendo naquela época. Foi um dos piores anos da minha vida. Tinha coisa pra viver e descobrir, mas me atirei numa fogueira em uma ilusão de amor. Talvez seja a hora de tirar uns atrasos e tentar consertar mais janelas já que não dá pra sair pra navegar.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Nota cítrica

Estava com sono na mesma proporção em que estava com vontade de comer uma laranja. Então decidiu chupar uma laranja antes de dormir. Foi até a cozinha, onde cortou a laranja em quatro partes. Estava doce a laranja. Não tão doce quanto as laranjas bahia, que tinha comprado na semana anterior. Quatro por dez, um absurdo de caro, mas valeu o investimento porque estavam dulcíssimas. E tinham tambéms vistosas polpas vermelhas que aguçavam a visão antes de agradar ao paladar. Laranjas. Poderia ser um texto sobre o governo do país, mas é só um texto sobre aquela vontade inesperada que dá de comer uma laranja antes de dormir.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Sexta-feira psicológica

Ainda que os dias estejam todos meio iguais, é na sexta-feira em que sinto mais o corpo doer.

Nessa espiral de sentimentos que virou este período isolado, teimo em não perder essa sensação de sexta-feira. De chegar ao ápice da semana. De só querer dormir até mais tarde no dia seguinte.

Não que os finais de semana sejam de descanso. Pelo contrário. Tem sido raro o final de semana em que é possível fazer o que quero, sem culpa, ressentimentos ou algo do tipo.

Nem jornal eu tô lendo mais. Perdi a mão, tomado pela escrita, tradução e revisão de um edital, além de assistir ao primeiro corte e as reuniões de edição e a entrada no segundo corte e um furacão que tomou minha casa esses dias.

Abandonei também outras leituras que em breve pretendo retomar. Hoje eu só queria estar livre mais cedo, mas ainda tem aula de alemão onde meu cérebro frita. Não tô reclamando. Só constatando.

Sei que é privilégio estudar online na quarentena, mas no momento meus privilégios esbarram no desemprego. E olhando para trás o que temos é uma vida de sucessivos subempregos, alguns com mais felicidades que outros, é bem verdade, mas que não somam dez anos de carteira de trabalho assinada.

Não que esse seja o foco ou o objetivo de uma vida, mas dá muito o que se pensar, sobre de antemão falar de condições alheias. Só eu sei tudo o que calo.

Sempre detestei isso, dessa coisa de esperar ansiosamente a sexta-feira e odiar a segunda-feira. É um modo de vida muito triste, já que a gente vive todos os dias e não só aos finais de semana. 

O problema, um dos problemas, dessa quarentena, é saber como fazer a cabeça dar uma trégua. Neste cenário de terra arrasada, quem conseguir, que se dê por satisfeito.

Ainda bem que amanhã é sábado.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Sobre lendas e feijões

Tenho um problema com sal. Receoso de salgar demais as comidas eu boto muito pouco sal nas coisas quando cozinho. Em algumas receitas nem coloco, tipo em strogonoff, por exemplo, porque já tem o sódio do catchup e da mostarda, ou quando uso Sazon e lembro do meme que a Adelita me mandou.

Preciso ousar mais no uso do sal, arriscar, experimentar novas medidas. Trago esta espécie de introdução para contar aqui que no último sábado eu fiz feijão. Cozinhei feijão preto como se come no Rio de Janeiro com a ideia de me transportar em sensação para Ipanema, para o Beach Sucos, o melhor prato feito do mundo, não melhor do que o quilo da Regina, no Arouche.

Acertei no alho, na quantidade da água para o caldo, mas errei no sal. Enquanto o feijão cozinhava, vi na timeline que mais pessoas tinham cozinhado feijão. A Luiza falou que as estrelas do feijão estavam alinhadas. Deviam estar. Paralelamente, é comum os relatos sobre o medo da panela de pressão explodir, além da recomendação da panela de pressão elétrica.

A panela de pressão tem um segredo simples que é não encher demais, nem de menos. E não deixar a água secar. Tirando isso, fiquei pensando muito neste medo da panela de pressão, que como todos os medos me foi ensinado. No meu caso, herdei da minha mãe, que não deixava eu chegar perto do fogão, achando que eu colocaria fogo na casa, como um boneco do The Sims.

O melhor PF do mundo, na esquina da Farme de Amoedo
com a Visconde de Pirajá em Ipanema


Medo de panela de pressão passou a fazer pouco sentido para mim quando comecei a utilizá-la com mais frequência. Ainda que eu não faça muito feijão ou muitas coisas envolvendo esta panela. A última vez tinha sido aquele macarrão cheio das gororobas (só que sem bacon) que ficou uma delícia, e antes carne louca.

De qualquer forma, fiquei pensando nessas lendas urbanas que nos formaram. A kombi que sequestra crianças, a loira do banheiro, primeiro tirar a Dilma pra depois tirar o resto. É muito pouco comum panelas de pressão explodirem. Não lembro de casos, relatos, reportagens sobre isso. Por que esse medo tão entremunhado na gente então?

Da minha parte eu sei que não fui criado para desenvolver autonomia, então me esforço para ir contra o que tentaram fazer de mim e fazer de mim o que eu quiser. É custoso e exaustivo. Não tem glória nenhuma aqui. Se quiser uma história de sucesso você está no blog errado.

Em todo caso não deixa de ser curioso notar como uma geração inteira, ou mais de uma, é refém do mesmo mito. A sensação que dá é que não fomos criados para lidar com o mundo, ou sequer com nós mesmos, no plano individual.

Fazia tempo que eu não comia ou fazia feijão. De qualquer forma, devo ficar mais um tempo sem feijão de novo. Mesmo deixando de molho e remolho, desta vez o feijão me deu muitos gases.


O restaurante Regina, no Arouche. Saudades do tempero desta comida



sábado, 13 de junho de 2020

Postei uma foto pelado no instagram

Postei uma foto pelado no instagram com um emoji de berinjela cobrindo o meu pau.

Foi a primeira foto do tipo que postei na internet. Sempre tive problemas com minha autoimagem. Quem me conhece para além das paragens das redes sociais sabe que tenho questões em relação a autoestima, que é baixa.

Há um tempo venho tentando parar com tantas piadas autodepreciativas sobre mim. É um exercício gigante de quebra de costume e acho que até consegui reduzir bem o número de piadinhas. Mas tirando os chistes, ainda sobra um olhar bem pouco generoso que tenho sobre mim.

É uma sensação não ligada a aparência física exatamente. É bem mais profundo do que isso. Interno. No sentido de ter que fazer um esforço grande pra tirar um chicote da mão do superego e deixar feridas arderem para que talvez assim possam cicatrizar.

Paralelamente eu sigo muitos artistas, ilustradores e desenhistas que tem no nu a expressão de sua arte e eu gosto muito desses trabalhos de nudez artística. Além de amigos e conhecidos que vivem sendo fotografados pelados.

Por meio de textos eu sempre acho que me exponho demais ao mesmo tempo que acho que tenho algum domínio (ou ilusão de domínio) sobre o que deixo explícito aqui e o que fica escondido ou nas entrelinhas. Além do que calo para evitar maiores dores de cabeça.

Sempre quis posar pelado para esses artistas que desenham nu. Tenho pensado em como me desnudar quando escrevo também. O Hugo Guimarães, por exemplo, tem uma literatura mais visceral do que as minhas aventuras literárias e vez ou outra publica fotos de si mesmo pelado.

Sem falar no Pornceptual, um site que amo muito, com muitas fotos de pelado artístico. Veja, eu não tenho uma pasta de memes no computador, mas tenho uma pastinha com algumas de melhores do pornceptual. Antigamente, numa era pré internet banda larga, era muito difícil esperar que a uma foto carregasse no computador.

Imbuído destes pensamentos, certo dia depois de sair do banho tirei uma foto minha pelado em frente ao espelho do guarda-roupa. Resolvi postar no instagram para ver no que ia dar. Pensei se um textão mal formulado como este acompanharia a publicação. Desisti da ideia. O tempo para pensar no que escrever somado do tempo da escrita em si certamente me fariam desobedecer ao impulso de dividir minha peladeza com o mundo digital.

Não sei tirar selfies. Me sinto patético e desconfortável. É bem difícil me achar bonito nelas. Minha linha editorial no aplicativo tem mais a ver com minha relação com a cidade. E no momento estamos sem poder desbravá-la.

A minha foto teve 55 likes e 11 comentários. Incluindo aí o da minha mãe, que depois fez um comentário no whatsapp: "vi sua foto pelado, kkkkkk". Um sucesso absoluto. Talvez vá para o bestnine de 2020 quando este ano enfim acabar. Minha média de likes fica em torno de 20, mais ou menos. Depende do dia, da foto, do algoritmo, do horário em que ela é publicada.

Antes de postar a foto eu tinha 543 seguidores. Depois de tê-la publicado, esta quantidade caiu para 538. No mesmo dia uma pessoa nova passou a me seguir. Tinha a sensação de que quase todos os comentários da foto eram de amigas mulheres, mas fui conferir e o número está até equilibrado em 6 mulheres (heterossexuais) e 5 homens (3 gays e 2 héteros).

Meu público sempre foi majoritariamente feminino. Homens não costumam ligar para a minha existência.

Pelo tom dos comentários a foto surpreendeu as pessoas. Diana achou ousada. Raíra pediu a versão sem censura. Recebi uma cantada mais abusada pedindo a foto sem a berinjela na DM, mas desconversei. Fiquei pensando nisso. Nessa nossa má relação social com o corpo humano nu.

Esses dias descobri a Falo Magazine, uma publicação justamente sobre nudez masculina. Achei incrível. Penso em criar algo para submeter à revista quando abrirem nova chamada. Quem sabe vocês não se surpreendam novamente com mais fotos minhas pelado por aí?


Além de postar a foto no instagram, pensei também em postá-la aqui, sem censura, para os visitantes ocasionais
Pensei também em postar aqui,
sem censura, para leitores e leitoras ocasionais


sexta-feira, 12 de junho de 2020

Pedras I

Sabe quando você conhece uma pessoa nova e vocês estão se apresentando? Aquele momento em que o outro cara fala sem parar, mas não porque fala demais, e sim porque gosta de falar (não conheço viado que não goste de falar) e você não quer interromper, porque não quer ser mal educado ou só quer ouvir e poderia fazer isso por horas até que.

Até que surge um pequeno e levemente pavoroso silêncio porque você se perdeu nos pensamentos enquanto ouvia o que ele tinha a dizer sobre ele mesmo. Você analisava o que ele estava dizendo e como estava dizendo e seu cérebro projetava a sinastria e você se encantava com o sorriso dele, o sotaque, a respiração, o corpo, as costas das mãos, a bunda, a mala, as pernas e as orelhas e aí.

E aí ele pede para você falar de você. Mas você tem pânico de falar de você, porque você nem sabe falar sobre você direito, isso não é algo que você faz com frequência, você acha esse tipo de situação sempre embaraçosa, você não está acostumado a isso, ninguém nunca pede que você fale de você (ainda bem) e aí surgem dúvidas do tipo como começar ou por onde?, qual versão seria a melhor?, qual delas causaria mais impacto?, a mais boa impressão? A falta de jeito e a falta de prática alimentam a insegurança que cresce, porque este é um momento importante, determinante até, de frio na barriga, de segurar ou perder a atenção do seu interlocutor porque.

Porque aqui você se depara diante de uma bifurcação em que você tem que performar muito bem e o sucesso fará toda a diferença entre a permanência e o sumiço, entre uma história de amor com final de novela ou a amargura da solidão eterna ao qual você está condenado como o Sísifo que sempre que chega com a pedra no topo da montanha vê com desgosto a pedra rolar montanha abaixo e não há nada que se possa fazer para quebrar esse ciclo a não ser subir com a pedra no dia seguinte porque uma condenação desse tipo é como um ciclo que não se consegue quebrar e então.

E então por causa de tudo isso você diz que não sabe muito bem o que falar, que ele pode perguntar o que quer saber, porque só o fato de você estar ali já quer dizer que você está entregue e que pode se entregar muito mais, mas ele não sabe disso, porque você não disse daí.

Daí que depois de alguns dias ele some.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Processo de transformação de um texto

Fui um dos 12.982 inscritos no edital de emergência do Itaú Cultural e seguindo um roteiro já velho conhecido meu, fui um dos 12.782 que não foram contemplados pela premiação.

Como eu sabia que não ganhar era uma possibilidade, comprei a ideia da Raíra de que se não fosse escolhido, teria pelo menos um post novo para este blog.

Pois vim aqui contar um pouquinho como foi o meu processo. Fiquei sabendo do edital no dia que ele foi lançado, mas deixei para me inscrever no último dia. Sem problemas. Eu estava ruminando o texto em segundo plano na cabeça, então quando sentei para escrever o texto simplesmente saiu.

Quer dizer, mais ou menos.

Confesso que eu não sabia muito bem sobre o que iria escrever, ou como, mas quando peguei meu caderno, uma caneta e sentei para escrever, o negócio fluiu. Até demais. Eu tenho um pouco isso. Esse gosto, hábito, mania, tesão de escrever à mão. Era uma prática mais comum em tempos pré-pandêmicos, durante intervalos, uma espera em mesa de bar, momentos entre compromissos, no Sesc, na rua, na praça de alimentação do shopping depois do almoço.

Então eu escrevi uma versão de um texto, que depois digitei. Considero o digitar uma espécie de reescrita onde geralmente reelaboro o que não ficou tão bom no papel. O resultado tomou a forma que reproduzo abaixo:


"Então, após uma sucessão infinita de infinitos hojes, voltar. Ou seria “seguir” a palavra mais adequada?

Repetir, depois que tinha parecido a própria eternidade, aquele trajeto de outrora.

Outrora. Gostava daquela palavra que remetia a outros tempos, tempos estes anteriores àquele em que o mundo tinha virado de cabeça para baixo.

Já há muito tempo que esperava aquela ligação. Ei, tu pode vir hoje? Tá livre? Tô. Ok. Pra entrar às duas, tá? Beleza. Obrigado de chamar.

E então lidar de novo com aquela euforia que vai do coração ao queixo, tomar um banho, preparar alguma coisinha para comer na pausa. Mandar uma mensagem no Whatsapp para as amigas, com quem compartilha detalhes da rotina, contando que foi chamado para um dia de frila, “hoje tem evento”, “graças a deus”, “tô cansado, mas precisando do dinheiro”.

E voltar aos preparativos. Colocar a camiseta e a calça jeans, mesmo com este calor, mesmo depois de todo o vírus, porque trabalhar de bermuda não pega muito bem.

Tomar o metrô e descobrir naquele percurso um novo sabor, o da retomada de coisas que mudam permanecendo as mesmas e das coisas que permanecem iguais mas que se transformaram de um jeito difícil de explicar, captar ou apreender muito bem como.

Durante o trajeto pensa o ar, como se este estivesse mais denso e era isso que tornava os cumprimentos tão desajeitados. Como se agora tivesse que aprender uma nova língua, comunicar os afetos de outro jeito, inventar uma nova gramática, reaprender o que fazer com as mãos, o quanto abrir os braços, qual a velocidade ideal de um aceno de mão de distante. Porque se for muito efusivo pode demonstrar muita afetação e o que os outros vão pensar? Uma alternativa melhor seria aquele toque de cotovelos que surgiu antes de todos os eventos serem suspensos e havia especialistas dizendo na televisão que o ideal eram as palmas das mãos coladas em posição de Namastê ou a leve reverência curvando o tronco para a frente como fazem no Japão.

Uma bobagem essas novas etiquetas quando o metrô continua cheio do mesmo jeito."

Pois bem. O edital pedia 800 caracteres, contando espaços, que é praticamente nada. A primeira versão tinha 2.035. Para um texto deixado para a última hora, era relativamente bastante.

Fiquei na dúvida entre jogar fora e fazer outro ou trabalhar nele mesmo. Optei pela segunda alternativa. Então começou a operação edição. Cortes. Como sintetizar o texto e as ideias e manter uma essência?

Como abrir mão de frases ou trechos que me agradavam bastante? Passar a tesoura, praticar o desapego e ainda assim tentar chegar a um resultado minimamente satisfatório?
 
Fui ouvir meus áudios de Whatsapp e ler os comentários durante este processo de enxugamento. É um corta daqui, corta dali. Entendi que estava diante de um exercício de concisão. Foi um desafio fazer. Fui derrubando parágrafos e eliminando artigos. O primeiro corte significativo cheguei a 1078 caracteres. Então cheguei a 974. Depois 907, 871. Nessa hora eu fiquei pirando. Até então achava que o mais difícil seria escrever.

Cheguei a 802 caracteres. Dois acima do que o concurso exigia. Ainda precisava fazer caber. 791. Parecia ok. Duas pequenas modificações que resultaram em 796 caracteres. Inclui então um “as” em “as palmas das mãos” e daí cheguei aos 799 caracteres que compartilho com vocês a seguir:

"Após infinitos hojes, voltar. Repetir, depois do que tinha parecido a eternidade, o trajeto de outrora.

Já há muito que esperava aquela ligação. Tu pode vir hoje? Posso. Pra entrar às duas, tá? Beleza. Então lidar de novo com aquela euforia boa de correr pra dar tempo. Tomar banho, cozinhar. Vestir a calça, mesmo com o calor, mesmo depois do vírus. Bermuda não pega bem.

Notar no caminho o ar mais denso e perceber como isso fazia os cumprimentos tão desajeitados. Era preciso outro jeito de se comunicar, descobrir o que fazer com as mãos, o quanto abrir os braços, a velocidade de um aceno. Alternativa seria o toque de cotovelos e dizem na TV que ideal eram as palmas das mãos coladas em posição de Namastê. Ou a reverência que fazem no Japão.

Etiquetas bestas. O metrô continua cheio como antes."


Ainda tive que fazer uma minibio onde eu dizia que sou de capricórnio com ascendente em áries e lua em aquário antes finalizar o envio.

Agora eu quero ler outros textos do concurso. Quer tenham sido contemplados, quer não.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Do que não saber o que fazer com o tempo

Ontem. No domingo eu cheguei ao fim de uma parte muito importante do filme que foi terminar definitivamente o primeiro corte do documentário.

Eu já havia passado por uma etapa parecida, que vamos chamar aqui de pré-primeiro-corte. Quando fui assistir vi que havia muito som a ser corrigido e sequencias das quais eu senti um pouco de falta.

Então depois de assistir tudo eu voltei pra mais dias que viraram semanas em frente ao programa de edição.

Resolvi tirar hoje um day-off, como dizem. Não exatamente folga-folga, nem feriado, mas aquele bom e velho deixar um pouco o material descansar e retomar outro dia.

Preenchi minhas horas acordando mais tarde, mas não tão tarde. Lendo gostosamente o meu jornal como eu gosto de fazer. Depois fui exportar os arquivos do filme, pra poder transferi-los para a Raíra. Fico pensando como seria legal podermos assistirmos todas essas 15 horas juntos.

Li também meus livros diários. Estou amando o "Oblómov" e "Sapiens" e gostando de "Sangue Negro" da Noémia de Sousa. Desde sábado que eu não tinha conseguido ler "Torto Arado", então hoje foram três capítulos no lugar do único que tenho lido por dia. Daí fui escrever. Deve sair posts no Pilhas nesta semana. Fiz uma pausa para assistir "Will & Grace" na hora do almoço e vi um episódio de "Liga da Justiça" antes de fazer arroz e strogonoff para a janta.

Enquanto cozinhava assisti um episódio de "A Regra do Jogo", que acho que foi sim uma boa novela. Faltam mais ou menos uns 30 episódios ainda para terminar.

Foi esquisito a sensação de ter finalizado uma parte do filme e mais esquisita ainda essa sensação de não saber o que fazer com o tempo.

Usei um pouco do tempo livre para refletir sobre algumas questões pessoais para levar na terapia amanhã. "Levar". a terapia tem sido feita por Skype, no meu quarto mesmo desde que entramos em confinamento. Vi dois episódios de séries diferentes (a saber Família Soprano e Todxs Nós) e o filme "Atrás da Estante", uma gracinha, disponível na Netflix.

Vi também o curta do Caio Franco, o amigo ex-namorado da Jout Jout, e um chamado "Inhalation" que está disponível no Mubi. E este foi o meu dia.

Passei longe das redes de modo geral, mas incentivado por Diana e Lucas fui ver os tuítes do Leo Dias sobre a treta com a Anitta. E o povo achando que o vídeo de sexta da reunião ministerial iria por a República abaixo. Que nada.

E assim foi mais um dia na vida. Menos um dia de vida. Amanhã, começar a assistir ao primeiro corte. Além de outras atividades relacionadas com o filme e não relacionadas também