sexta-feira, 22 de maio de 2020

A Tese do Mestrado

É um negócio meu, assim, uma teoria, uma piada interna que eu tenho para comigo mesmo e que eu chamo carinhosamente de tese do mestrado.

Descobri que existia um negócio chamado vida acadêmica só depois de ingressar na universidade. E mais. Só fui percebendo como se dava isso de pós-graduação, especialização, mestrado, doutorado etecetera depois de participar cof cof como imprensa, de encontros universitários, mais especificamente o ENUDS (diversidade sexual), e lá travar contatos com pessoas que faziam ensino superior público, já que eu vinha de uma universidade particular menos conceituada e conhecida em termos de produção acadêmica e científica, digamos assim.

Foi como ficar sabendo de um outro universo possível, cheio de pessoas inteligentes, interessantes, interessadas, articuladas, muito além do nível de boçalidade e ignorância com o qual eu estava condenado a conviver até então na vida. E não estou me referindo aqui de maneira alguma às pessoas que dividiam o estudo universitário comigo. Faço menção a formas de mentalidades mais provincianas e prosaicas, coisas de priscas eras, lá da infância e de gente que veio depois ou já estava lá desde sempre, mas cujo pensamento parou.

Pois bem.

Dada a minha admiração por essas pessoas mestrandas e mestras e mestres e doutores e doutoras e pertencentes a este universo tão distante de mim e ao qual eu só conseguia acessar lendo uns textos muito cabeçudos e muito difíceis e às vezes até incompreensíveis, comecei assim a balizar a realidade.

Se uma pessoa praticasse um ato ou exprimisse um pensamento muito absurdo que estivesse além das minhas capacidades de assimilação, interpretação e absorção eu brincava comigo mesmo dizendo "ah, gente não é possível, ele está dizendo isso para o mestrado dele. É uma pesquisa sobre a incontrolabilidade das reações sociais no século 21". "Isso é para o mestrado dela, uma etnografia sobre os efeitos" e assim por diante.

Desta forma a minha tese ia explicando o mundo. O biroliro por exemplo é uma performance para o mestrado dele, onde ele se inscreve como sujeito e observador do experimento ao mesmo tempo. Pessoas queridas falando besteiras nas redes sociais, com certeza é para investigação do mestrado delas, porque só isso explica eu não conseguir entender o que se passa na cabeça desse povo.

É uma piada velha e interna que já perdeu a graça e a qual eu nem recorro mais dado os delírios todos que estamos vivendo. Infelizmente tenho que lidar com o fato de que minha tese não é a realidade.

Mas eu gostaria muito que fosse.

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