sexta-feira, 5 de julho de 2019

Valores

Não sei se vocês sabem, mas já há muitos anos que eu guardo o hábito de ler a coluna da minha amiga Mônica Bergamo.

Pois bem.

Há algumas semanas, quando a Odebrecht abriu pedido de recuperação judicial os números da dívida da empresa vieram à tona.

E eu que sempre acho que nada mais vai me surpreender nesta vida, fico de novo boquiaberto.

Na verdade nem é uma surpresa, ou espanto da minha parte. Trata-se mais de uma indignação antiga, que vai sempre se atualizando.

Na lista de credores da empresa há ex-executivos, que inclusive foram delatores da Lava Jato. 

E entre os montantes para serem pagos a esses senhores há valores na casa dos milhões. Mas calma. Fiquem indignados comigo. Não me deixem chocado assim sozinho como aqueles pastores que pregam com a Bíblia em praça pública desdizendo as bichas.

Não são assim milhões de um milhão para cada um. São milhões do tipo 14 milhões para um, 16 milhões para outro, 24 milhões, 74, 80 e 285 milhões.

O legal de escrever e deixar as coisas registradas no tempo é que há uns bons anos, no começo da minha vida adulta, ainda no primeiro ano de faculdade eu era um jovem sem trabalho nem perspectiva de um, me chocando com uma altas quantias de dinheiro que sempre aparecia na mídia em casos de corrupção e escrevi que enquanto uns poucos tinham milhões eu precisava de uns trocados para carregar o bilhete único.

Digo que é legal ter esse registro, porque pouco mais de dez anos passados, continuo sendo um cara precisando de dinheiro para carregar o bilhete único. A diferença é que no momento me encontro em uma situação de semi-emprego, que vem a ser melhor que um total desemprego, mas que está bem longe de ser o ideal assim, para pagar as contas e viver deboas.

Porque o elã todo onde quero chegar é o que se faz com tanto dinheiro? Porque não se precisa de tanto assim para viver uma vida razoavelmente feliz, confortável e com afeto, aproveitando o tempo que se tem.

Não tô dizendo aqui que sou o próprio Buda ou que vivo uma vida frugal. Perto de muita gente eu sou um privilegiado em muitas instâncias, ainda que num campo muito pessoal não estou muito perto de estar como gostaria.

Sei lá. Para mim continua tendo muita coisa errada em alguns ganhando muito, rios de dinheiro, enquanto outros passam sede, literalmente.

De maneira geral, individualmente é possível fazer exercícios de desapego, de menos consumismo, de uma mentalidade anticapitalista. Repensar hábitos de consumo e vida. Quais são as estruturas sociais que se mexem com a sua atuação na vida pública? Fico curioso para saber se coletivamente esse tipo de postura também é viável.




Nenhum comentário:

Postar um comentário