terça-feira, 14 de abril de 2020

Perca a libido agora pergunte-me como

Estou com fastio de sexo. Entediado. Com preguiça. Com o tesão abaixo do nível do pré-sal.

Faz tempo que tenho pensado muito sobre isso.

Meu tesão constante, minha vontade de chupar rola que não passa nunca e o lugar que o sexo, o amor e os relacionamentos ocupam em minha vida.

Mas esses tempos eu ando achando tudo muito chato. A forma como a gente transa. A forma como a gente se relaciona.

Ensaiei ou pensei em escrever uma peça teatral sobre isso. Sobre essa inquietação que fica rodeando a minha orelha. Mas seria tão chata mas tão chata que não abri sequer o Word para começar a digitar. E também falar o quê?, para quem?, sobre o que?, e como exatamente?

Tudo aquilo sobre o que eu gostaria de discorrer não parece se encaixar em nenhuma forma. Ou pelo menos nas formas que tenho buscado.

Pode ser também essa autoconfiança na certeza de que eu penso sobre todas as variáveis de um problema, reproblematizando tudo por outro lado, só que sempre há algo que escapa. E o que vem é o senso comum como resposta. A simplificação das mais ignorantes.

Se não tenho tanto prazer em ser penetrado ou penetrar e gostaria de pensar o sexo para além da penetração é como se houvesse algo de errado comigo. Eu que preciso me resolver. Não o mundo que funciona de um jeito muito certo, não é mesmo? Eu que lute.

Quase como quando alguém olha um quadro em uma exposição e diz que uma criança poderia ter feito aquilo. Que o quadro na parede não é arte.

Ou na cena do Parasita em que o boy fala que a criança é muito talentosa por ter pintado um Chimpanzé e a mãe informa que aquilo é um autorretrato.

Para quem não tem o hábito de desenhar ou se expressar por essa via artística, como eu, a escrita é uma forma de se retratar. E como eu estou o tempo todo pensando sobre escrita e sobre sexo, não consigo escapar de escrever sobre mim.

E nestes tempos tem aparecido essa impotência sexual. E não nestes tempos quarentenados. A crise é anterior à crise.

Uma escassez de sonhos eróticos. Uma falta de imaginação para se masturbar. O condicionamento de estar sempre com gadgets na hora do onanismo. Meu lance são contos eróticos, mas também não dispenso vídeos, de preferência amadores.

Da última vez que eu transei eu brochei e não gozei. Mas também não era porque meu pau não estava duro que eu não estava gostando do sexo em si. Outrora muitos caras ficaram espantados porque minha ereção demorava a abaixar depois da ejaculação.

O boy com quem transei da última vez (já faz 84 anos) me perguntou quantas vezes eu tinha me masturbado pensando nele desde que tínhamos nos vistos. E ficou um clima embaraçoso, porque a resposta era nenhuma. Mas também faz tempo que eu não me masturbo pensando em alguém em especial e quando eu digo que faz tempo, faz muito tempo mesmo. Tipo bota uns 15 anos aí. Uma sexualidade quase toda que condicionada, acostumada, habituada. Uma vida sexual sedentária, preguiçosa, modorrenta. Ele tinha se masturbado duas vezes só naquele dia antes de nos encontrarmos. Obviamente me deu curiosidade de saber se eu havia sido homenageado alguma vez, mas fiquei sem jeito de perguntar. Fazia uma semana quase que eu nem tinha gozado. E óbvio que ele achou aquilo esquisito.

Em todo o caso, a inquietação vem da forma como o sexo de uma forma geral na sociedade contemporânea vem sendo feito, reproduzido, ensinado, encenado, discutido, debatido, visto, consumido e narrado.

Mas vai ver é só comigo.

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