sábado, 7 de março de 2020

Sobre uns livros, filmes e uma vida aí

Estou lendo os contos de Kafka presentes na edição de "Blumfeld, um Solteirão de Mais Idade", que a Record lançou em 2018.


Não estou gostando do livro de modo geral, nem dos contos em particular. Hoje mesmo, acabo de ler “Investigações de um cão” e sabe quando você não apreende nada?


Li como se não tivesse lido. Se tivesse uma prova para fazer sobre o livro ou sobre a história eu ia ter que me virar na força do truque para evitar me sair tão mal.


Os contos não me provocam nada, não me emocionam de jeito nenhum e ainda fazem com que eu fique pensando nas coisas que eu tenho que fazer - tomar banho, estudar alemão, procurar emprego, cozinhar, terminar de editar o filme, escrever, ler outras coisas, assistir a filmes, ir ao mercado, comprar pasta de dentes, pagar dívidas e boletos, etc etc etc.


E o pior é que lembro de ter gostado muito de ler “A Metamorfose”, que espero num futuro breve, reler.


Por outro lado, tenho lido "Delírio do Poder”, da Marcia Tiburi, e estou encantado com cada um dos textos. Um livro cheio de reflexões sobre o processo de candidatura dela ao governo do Rio de Janeiro em 2018.


Subi o livro na pilha de leitura por entender sua urgência e para tê-lo como espécie de material de aporte teórico de provocações que me acompanhariam na edição do filme sobre a candidatura da Renata.


E é curioso como cada um dos textos ecoa ainda aqui dentro depois da leitura, levando a uma série de outras impressões e reflexões, além da ampliação de noções sobre política. Um livro muito bom para fundamentar discussões depois que o pesadelo de governo Bolsonaro passar, se é que vai passar e se é que não mergulharemos em trevas ainda mais densas.


Por falar em Bolsonaro, eu tenho visto a série cinematográfica “Sexta-Feira, 13” e é impressionante como tudo que temos vivido politicamente no Brasil se assemelha muito ao arco narrativo de um filme de terror dos anos 80. Talvez eu me detenha sobre isso em outro texto no futuro breve, a depender de como conseguirei manter uma rotina de administração temporal em uma semana com Mit-SP e Faroffa, além de outros compromissos.


Por fim, mas não menos importante, tenho lido também "Palestina - Uma Nação Ocupada”, do Joe Sacco. Um livro-reportagem em quadrinhos sobre o período em que o jornalista e quadrinista norte-americano passou na Palestina lá no começo dos anos 90.


Estou quase terminando a HQ, mas digo que não foi uma leitura fácil. Não só porque ela tem muito texto, mas porque o tema não é dos mais palatáveis. Conflitos, guerra, crueldade. Um dos episódios retratados que mais me doem de ter lido foi o de forças de segurança (sempre elas) fazendo árabes cortarem seus pés de oliveiras. 


O relato da violência somado com as imagem das árvores estéreis faz com que eu fique até sem mais palavras para descrever como me sinto.


E tem também os relatos de prisões, que num certo sentido me lembraram muito o trecho da biografia do Reinaldo Arenas em que ele fala sobre seu período no cárcere.


Então, lá para as tantas no meio do quadrinho, Joe Sacco conta que é quase incomum que alguns dos homens com quem ele fala, conversa, entrevista, interage ou troca, não tenham sido presos. Um dos personagens apresenta a ele sua filha, Ansar, que foi batizada com o mesmo nome de um dos presídios da região.


Tenho pensado muito sobre a dobradinha prisão e liberdade nestes últimos dias, por conta disso. No quão duro é viver sob um regime de excessão, no quanto a desumanização é parte fundamental para que aconteça com facilidade a eliminação ou o aprisionamento do outro.


E eis que me deparo que a liberdade do contexto capitalista-neoliberal no qual nos encontramos não tem me parecido tão liberdade assim. Que além de precisarmos batalhar e construir uma liberdade comum ainda devemos tomar cuidado para não virarmos reféns de prisões de nossas mentes.


Tenho me sentido preso dentro de mim. Como se estivesse vivendo sem ter vivido.


No mais, comecei a ler “O Vendido”, do Paul Beatty, que foi um dos primeiros livros lançados pela Todavia, quando a editora nasceu. Confesso que li com dificuldade as primeiras vinte páginas, mas acho que foi o sono que eu nem sabia que eu tava. O final do prólogo me pegou pelo peito e então entrei de verdade no livro e todas as crueldades às quais o protagonista “Eu” vem sendo submetido pelo pai começaram a me deixar instigado para ver onde tudo isso vai dar.


Por enquanto é isso.

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