terça-feira, 11 de julho de 2017

Elegia

Acho que foi o Marcelino Freire em uma oficina de criação literaria que disse que se você quer fazer poesia pense no nome da sua avó.

Escreva com as suas palavras. O nome da sua vó é mais bonito do que se você tentar descrever as cores de um por do sol.

É verdade. Eu imediatamente pensei no nome das minhas avós. Maria Conceição e Justa. Quanta poesia.

Hoje a vó Justa se vai

A morte faz parte da vida e pra morrer, basta estar vivo. É sempre bom pensar na morte. A cada um, a sua hora. Não tem jeito. É preciso se conformar.

A minha vó era uma contadora de histórias. Vai ver por isso que eu sonho em ser escritor.

Vou me lembrar pra sempre das histórias da minha vó, que sempre, invetavelmente acabavam com uma bacia de doces que ela estava trazendo pra gente, mas que perdia ao escorregar na ladeira do quebra cu.

A minha vó não teve uma vida fácil. Criou e perdeu muitos filhos. Além da poesia de seu nome raro, a minha vó sempre carregou com ela uma fé e uma força que nem eu, mais novo e que cresci em um mundo com muito mais facilidades, tenho.

A minha vó viveu uma vida intensa. Com caracteristicas dos mais variados gêneros literários. De drama e melodrama com espaço também pra muita comédia.

A minha vó tem uma fé que eu nunca vou entender. Eu, que sou mais novo, penso sempre em desistir por muito menos.

A ironia de tudo é que boa parte da minha descrença tem a ver com as profundas desigualdades e injustiças desse mundão.

A minha vó era humana. Tinha defeitos e qualidades.

A vida muitas vezes foi dura com a minha avó, ensinando erroneamente que ela tinha que se curvar e servir, só por ter nascido mulher.

O livro preferido da minha vó era a bíblia, do qual eu só sei algumas passagens.

Hoje a minha vó parte.

Vá em paz, vó
Vá com deus, vó.

A vida pode não ser justa, mas a senhora é.

Viva!

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